quarta-feira, 11 de março de 2009

Dou zero pra ele?

Cheguei ao ponto final no Terminal Princesa Isabel, normalmente tem uma galera conhecida esperando o busão, mas hoje eu fui o primeiro a chegar e nada de bumbo, passado alguns minutos o ônibus chegou e vi um cobrador novo que não conhecia, desceu atrás dele o motorista de quase todas as noites, (um doido, quando volto com ele chego em casa em meia hora, levo normalmente pra voltar uns 50 min. e às vezes uma hora e dez).

Bom, entrei no busão, logo em seguida entra um moço que deve ser enfermeiro ou estudante de alguma coisa que precisa usar roupas brancas, não, ele não é do catimbó, pois ele está de branco todos os dias e carrega sempre muitos livros, ele me dá boa noite e senta no banco ao meu lado do outro lado do corredor.

A mulata bonita de cabelos alisados e olhos verdes que estuda direito na facul perto da minha, (já ouvi ela conversando sobre seu curso com alguém no telefone), entra em seguida elogia meu chapéu, eu agradeço com um sorriso e ela senta no banco da frente do moço enfermeiro.
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Atrás dela, depois do cobrador entra o moço segurança morrendo de rir, me dá oi e senta no banco a minha frente, o cobrador falante mais que tudo, começa rir e pede licença pra moça e começar narrar sua história.

Isso chama minha atenção e quando tiro os olhos do livro e olho pra ele e ele com sua cara de quem esperava algum entendimento ou compreensão com sua história. Então ele começa, com um Português ruim e um sotaque arrastado de quem veio da “Grande Bahia”: Vê se pode? Olha só moça, me desculpe falar, eu não gosto de falar dos outros quando eles não estão por perto, mas eu não podia deixar de comentar isso, poxa vida como sou bocudo.

No caminho pra cá, uma moça bonita entra, para do meu lado em pé aqui (apontando para o lado) começa com uma conversa mole de que não namora por que tem muita sorte no jogo, mas pouca no amor. Veja bem ela é bem arrumada, tem os cabelos na bunda, olhos bonitos, sempre bem maquiada, e desculpa a franqueza moça, ela é bem ajeitada de corpo parece um violão. Ele continua, falando, fechei meu livro. E parei para ouvir, ele notando meu interesse, olha pra mim e diz, viu menino vê se você concorda, acho difícil uma moça tipo modelo alta bonita não ter um homem pra cuidar dela, até as moças da “Praça do Psiu” conseguem fazer dinheiro. Arregalei os olhos.

Sabe eu sou homem muito sincero eu não gosto, às vezes, do tamanho da sinceridade que tenho, mas minha mãe sempre diz, é melhor se arrepender do que disse do que perder a oportunidade de dizer.

Já estava me corroendo por dentro pra saber o que ele tinha dito à moça e por que. Então ele continua, né Tonho, chamando a atenção do motorista que gritava alguma coisa lá da frente, mas eu não consegui ouvir. O cobrador falou: Você me viu quase caindo pra trás? Tonho eu tava era fugindo, ela chegava perto e eu ia me empurrando pra fora da cadeira.

Bem sério, os moços já riam sozinhos, o segurança e o enfermeiro, enquanto advogada to be e eu continuávamos sérios tentando entender.

Vixe Maria! Disse o cobrador, eu não consegui ficar calado, quando ela me perguntou qual era o problema dela, te juro que tentei pensar em outra coisa, mas o vento não ajudava meu irmão. Falei pra ela posso ser sincero? Ela disse que eu podia e eu achei que podia estar ajudando. Falei não me leve a mau, mas acho que isso pode ajudar.
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Ô Fia vai ao médico. Ela olhou assustada e perguntou por que, eu disse fia teu problema é o bafo, pode ser estomago, pode ser caso de dentista, mas fia to quase caindo da cadeira. (Desculpa, mas me deu vontade de rir, segurei firme, pois ele estava sério). Fia homem gosta de mulher bonita e você é um estouro, mas fia mulher com bafo é ruim. Ele continuou: A coitada ficou branca, pois a mão na boca e pediu desculpa. Cobrador eu nunca percebi, vou com certeza ao médico, ao dentista sei lá, agora que você me disse isso, eu estou realmente preocupada. Então ela passou a catraca, apertou o sinal, me deu um beijo no rosto me agradeceu e desceu.

Viu moça eu não to rindo do problema alheio não, eu mesmo já passei por isso, mas era por causa do chulé, mas graças ao pó de pé, aquele do frasco marron eu não tenho mais, eu tava rindo é por que o motorista, né Tonho? Disse que eu era cara de pau e filho da puta. Eu na verdade só me acho sincero e bocudo.
(Quando entendi o que era, me deu um pouco de vontade de rir e um pouco de pena da moça, imagina que constrangedor, mas talvez isso possa ajuda-la)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Olhos, asfalto e perfume.

Procurava entre minhas coisas, alguma coisa física que poderia me ajudar a lembrar você. Esvaziava os bolsos, das calças do terno de risca de giz, do bolso do paletó também, fui tolo o suficiente em checar até mesmo embaixo da gravata.
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Haviam retirado dos bolsos uma carteira, alguns documentos, uns R$ 70,00, alguns cartões de crédito, cartões de visita de amigos e desconhecidos, entre os cartões uma foto 3X4, mas não era a tua. Dois chicletes restavam no bolso, destes um sem mastigar e o outro mastigado e embolado num pedaço de folha de caderno, não tinha lixo pra jogar então coloquei no bolso. Havia também as chaves do carro e de casa, não da tua, somente da minha. Meu telefone celular, sem ligações perdidas ou mensagens não lidas. O crachá da empresa, me esquecera de devolver na saída do prédio, nem lembro como sai. Correndo atrás de você. No meio da multidão em minha frente via apenas teus olhos no reflexo do espelho do elevador.
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Na verdade não me lembro como cheguei ao meio desta avenida onde estou agora deitado, vejo, de olhos fechados, o povo que agora se aglomera, para me espiar, ainda ouço as buzinas dos carros em volta e o som da ambulância que se aproxima. Vejo, agora de cima, você correr em direção o bolo de gente, em teus olhos vejo desespero, mas você nem me conhecia, vejo lágrimas em teus olhos e de repente, me deu um alívio, você me notara também, quando passou saindo apressado do elevador, vi um breve sorriso e meu coração encheu-se de alegria e segou-se, atravessando a rua tentando te alcançar não vi o carro se aproximar, nem ouvi buzinar. Meu corpo foi leve ao ar e forte bateu, depois de minha cabeça, ao chão. Quando você olhou pra trás.
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Deixe-me passar, sou médico você disse. Mas não era de verdade apenas, trêmulo, segurou minha mão e a única lembrança que ficou foi teu calor que esquentava minha mão que esfriava e teu cheiro que chegava até a mim, eu, agora em pé e levemente curvado ao teu lado, que ajoelhado estava ao lado do que era eu, senti o cheiro de teu perfume enquanto sussurrava em teu ouvido: Foi amor a primeira vista não foi?
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(Uma eterninade não apaga algumas coisas nem mesmo o perfume, amado, que o cheiro durou apenas alguns segundos. Melhor um amor que durou segundos, do que uma vida sem amor)