segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Todos se vão...

Enquanto sentada naquela mesa da calçada; observava o mundo acontecer ao meu redor, segurando o copo de meu trago em uma mão e um cigarro em outra, olhava o laranja do meu isqueiro se confundir com as lanternas dos carros que, em direção contrária, se vão.

Pensava na inconstância das coisas, das amizades, amores e a impossibilidade dos acontecimentos, me questionava se eu realmente estava ali, se aquilo tudo não era apenas um devaneio de minhas ilusões, tantas. A conversa dos amigos não conseguia me distanciar de meus pensamentos, não queria ser profunda em nenhum comentário, apenas me limitava a breve introduções de minha opinião, com respostas curtas a longas perguntas.

Este mundo tem me consumido lentamente em lembranças que não me deixam desistir de mim mesma. Observo a tudo como quem vê a vida pela primeira vez, mas lembro de tudo, de tudo com se fosse a priemira vez. Dos quais, telefones eu liguei, encontros eu marquei e de todos que enrijeceram meus mamilos, suas línguas quentes que entraram no mais profundo de mim, mas lá no fundo, mesmo, de verdade; Este aqui em meu peito, não, quantos ficaram? Um arquear, tensão, suor, respiração ofegante, alívio, mas fazer bater, de verdade, não sei dizer.

Sinto-me fria como mármore embora seja quente como uma noite de verão, talvez até mais do que deveria ser, quando me dou, me dou de verdade, mas quantos eu tive e quantos me tem? Não fujo de nada, mas tenho muita pressa, pressa em conhecer e em fazer tudo que sinto vontade e que faz-me sentir viva, mas agora neste momento, sentada nesta mesa em uma calçada, estou parada meio que inerte, nada de ações ou palavras apenas observo a luz vermelha das lanternas dos carros que se vão enquanto se misturam a cor laranja de meu isqueiro e seguro meu trago em uma mão e meu cigarro em outra.

(Se fosse escolher ser alguém, mesmo amando quem sou, talvez escolhece ser você)

sábado, 13 de novembro de 2010

Amontoa aí vai!

Eu sinto muita saudade, saudade dos amigos distantes, dos amores antigos, das casas onde morei, das vizinhanças que conheci, das músicas que marcaram de alguma forma algum “time” que passou, daquela calça jeans que de tão surrada tive que me desfazer, saudade dos dias de menino, dos dias de namorado, das conversas jogadas fora em mesas de bares, dos dias suado por dançar num club, coca gelada na manhã de ressaca, tomar sol sem me preocupar com envelhecer da pele, ou da chuva que não era tão ácida, saudade da pele que tinha, da ingenuidade que perdi, das Augustas e Catherines, das pessoas que partiram pra sempre, das pessoas que não falo com freqüência, dos lugares que demorarei a ir de novo, do tempo perfeito naquele tempo que não volta.

Mas creio que envelhecer é assim, quando consciente de tudo que vivi e agradecido por todos que passaram e tudo que vi e fiz e até mesmo dos meus erros. Vivo com saudade. E me pego rindo de piadas antigas, sentido cheiros de coisas “antigas”, de gosto de beijos roubados. Cigarro e suor. E embora sentir saudade às vezes doa. Sentir saudade me dá a sensação que pra onde quer que eu vá ou o que quer eu faça eu tenho boas referências de um monte de coisas e sentir saudade deixou de ser pesado, sentir saudade passou a ser algo mais profundo do que apenas sentir falta de alguma coisa ou alguém, sentir saudade, aquele arrastar irritante do giz na lousa, virou dar valor cada vez mais a tudo que tenho, as novas pessoas que chegam, as novas coisas que conheço, os novos lugares que vou. E assim vou vivendo, amontoando em volta de mim novas coisas e, claro, perdendo outras, como num vicioso ciclo (un)natural que se transforma e se renova trazendo e levando novas histórias, novos lugares, outras coisas, algumas pessoas e mais saudade.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aquele cotidiano

Todo dia ele fazia tudo sempre igual. Acordava às sete da manhã não porque precisasse, mas porquê ele queria, fazia uma pequena rotina de exercícios de yoga, tomava banho, secava seus cabelos, vestia sua roupa, arrumava suas coisas e tomava seu café com leite e comia torradas com manteiga enquanto assistia o jornal.

Entre a internet e a TV, fumava um cigarro e tomava mais café. Colocava sua carteira no bolso, pendurava sua mochila nas costas, pegava suas chaves e saia de casa rumo ao trabalho, andava alguns bons metros até o metrô, descia e pegava um ônibus. Descia um ponto antes do ponto mais próximo ao trabalho para poder fumar um cigarro antes de entrar.

Chegava ao trabalho, ligava seu computador recebia os up-dates de tudo, descia tomava uma xícara de café preto e trabalhava, trabalhava e trabalhava. Saía correndo do trabalho no final da tarde andava até o ponto de ônibus e pegava um, até a faculdade.

Descia três quarteirões antes, pois ali era o ponto mais próximo de sua escola, no caminho fumava mais um cigarro, às vezes encontrava alguém pelo caminho com quem ia conversando. Mas na maioria das vezes descia sozinho a rua.
Chegando à faculdade passava antes pelo banheiro, lavava o rosto e as mãos, ia até o bebedouro enchia sua garrafa d’água e seguia pra mesa de sempre na cafeteria onde seus amigos estavam. Conversava sobre tudo, banalidades, piadas, trabalhos.

No final das aulas corria para o ponto de ônibus e dali pra frente estava só de novo, corria pra chegar em casa, para descansar porque no dia seguinte sabia que faria tudo isso de novo.

E assim dias foram transformando-se em semanas e as semanas se fizeram meses, mas em um desses dias no caminho entre o banheiro e o bebedouro da faculdade ele cruzou com seus olhos azuis, pele branca, cabelos dourados e seus lábios rosados. Sentiu algo por dentro que não sabia dizer exatamente o que era, era como um lento-arrastar-de-asas pelo seu rosto, era uma antecipação de algo que ele não previa acontecer, sentia uma violenta pressa em correr todos os dias para que chegasse a hora de se encontrarem novamente, sentia que nada faria sentido dali pra frente. Sabia que daquele dia em diante tudo estava perdido.
(TORG)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"A gota que falta"

Em pé na lavanderia em sua casa enquanto passava sua camisa para ir trabalhar no dia seguinte, pensava em todas as coisas que haviam acontecido nos últimos meses, coisas que eram boas e outras não tão boas assim, pensava que a vida era assim mesmo, pois sabia que quando não se consegue mudar "certas" coisas é melhor se conformar e torcer pra que outras coisas melhorem de outra forma. Tinha tanta convicção de que ia tudo ser diferente, mas no fundo no fundo tinha poucas esperanças de que as mudanças realmente seriam boas. “... Não se afobe não que nada é pra já...”

E olhando em volta estava sozinho mais uma vez, apenas aquele velho CD da Ro ro tocando ao fundo, iluminado pela aquele velho abajur de luz amarelada onde a fumaça do cigarro se misturava ao vapor do ferro, formando um balé de cores e nuances. Silhuetas subindo perdidas e se achatando ao teto. “... A eterna desventura de viver...”.

Queria que não sentisse tanta raiva da eterna impotência humana perante algumas coisas da vida, mas era tão humano sentir raiva, e sentir-se só e nada podia fazer se não, apenas continuar passando sua camisa e apreciando a mistura de vapor e fumaça de seu cigarro subindo solta e se achatando ao teto. “... Milênios no ar...”

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Hun! Pois é.

Preciso dizer que por mais preparado que penso que estou para a vida, pra vivê-la, vejo que ainda existem muitas coisas que são dificeis pra eu lidar.

Talvez seja uma verdade dizer que tão ruim quanto não ter curiosidade alguma é ser ansioso demais. Como se planeja alguma coisa quando se sente que tudo o que acontece te leva em outra direção, contrária, daquilo que queria que fosse e tão distante fico que o que vejo é apenas um ponto que de um dia brilhante passou a ser apenas uma mancha preta de algo que já não é mais.

Quantas vezes é preciso acabar e recomeçar, quantas vezes recomeçamos e (nos) acabamos em um fim que já sabíamos como seria, mas por teimosia insistimos porque ainda acreditamos. Quantas vezes eu terei que me despedir de coisas que me faziam sorrir, quantas vezes terei que me acostumar com coisas que eu nem queria. Quantas vezes terei que partir ou ver partir, quantas vezes terei que chegar ou esperar pela chegada, quantas partes de mim deixarei por ai enquanto pedaços são levados. Mas eu ainda tenho esperança e não me culpo por acreditar, não me culpo por tentar, não tenho medo de acabar e nem de re-começar, por que também não existe outra saída. Afinal se a vida não fosse assim, como ela seria? Pois tudo ou quase tudo tem um fim, mas finais só são felizes na ficção.

(Suddenly I begin to believe that nothing is the way I thought it was)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A question

Sempre ouvi dizer que somos feitos de sonhos, são nossos sonhos e desejos que nos impulsionam pra frente e nos transformam ao longo da vida; o que éramos para o que seremos, mas nestes últimos tempos tenho apenas uma pergunta na cabeça:
Se o homem é feito de sonhos, o que acontece com ele quando seus sonhos morrem?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lá atrás

Atrás de minha casa existe um estacionamento, quase todas as madrugadas, a maioria delas pelo menos, ouço o barulho da corrente que cai ao chão, o abrir da porta daquela velha Kombi, num girar de chave, aquele velho motor, cansado, é colocado mais uma vez pra funcionar, somente depois de algumas aceleradas ele então fecha num golpe sua porta velha. E lá vai ele mais uma vez rua abaixo após dar a volta no quarteirão. Eu acredito que, pelo horário que sai todo dia, ele seja um feirante, algumas vezes eu estou chegando em casa quando o vejo passar, outras vezes estou ainda acordado com a luz de minha cozinha acesa que tenho certeza ele deve ver de lá da garagem, mas o que mais me incomoda é quando estou dormindo e desperto com seu barulho. Sei que pra ele não faz diferença e talvez não devesse fazer pra mim também... Mas faz.