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sábado, 7 de novembro de 2009

O ciúmes é uma causa perdida de que todos querem participar.

De repente ele se viu só, a música já não estava mais tocando, existia apenas o som dos carros passando na rua, a moto que explodia seu escapamento, numa rua tão curta, com raiva esperava que um carro viesse de frente e partisse o motoqueiro ao meio. Isso era maldade demais, mas se sentia assim um tanto quanto mal naquela manhã.

O cheiro do teu perfume, o qual você levou um tempão pra escolher, ainda estava no ar, e de certa forma isso lhe dava um pouco de aflição, o ciúmes é uma causa perdida da qual todos querem participar mesmo que involuntariamente.

O sol brilhava lá fora, mas em sua mente havia uma tempestade de pensamentos, insegurança. Olhou para a caneca ao lado e pensou em tomar um gole de seu café, mas olhando bem dentro da caneca viu uma formiguinha que tentava não se afogar, pensou em ser “bonzinho” e retira-la de dentro da caneca, mas ele estava mau naquela manhã e decidiu assistir seu esforço por um tempo até que insatisfeito foi até a pia e abriu a torneira virando tudo ralo abaixo. Lembrou do veneno que sua amiga lhe deu; pensou em seu próprio veneno, achou que ele não servia para nada tinha efeito passageiro e passageiro ele se sentia nessa nova viagem.

Ascendeu mais um cigarro, já era o terceiro na seqüência, se sentia um tanto quanto estúpido por sentir tanta aflição, sabia que tinha sido duro demais quando falou que você não poderia voltar pra dormir lá, mas na verdade nem ele mesmo sabia o porquê tinha dito isso. Pensou em ligar pra você e dizer que tinha se enganado, mas achou melhor esperar que as coisas se acalmassem. Dentro dele ele sentia;

Talvez fosse o maldito ciúme, talvez a maldita insegurança, talvez sua própria tolice.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Qualé que é?! Can u dig it?



Quando é cedo demais pra dizer certas coisas?
Não sei, mas sei quando é tarde demais, quando as coisas deixam de fazer sentido.
E dizer certas coisas é uma mera educação ou segue um protocolo.
Por que você me disse, sinto que necessito dizer o mesmo a você.
Sei que não é cedo, nunca, dizer pra alguém que você se importa, que você a quer por perto por quanto tempo for, se for; melhor, se não for. Talvez faça parte. A vida é um intricado meio, meia, rede, cachecol, inextricável de pontas e meios de fios, seus pontos tecidos lentamente de forma diferente a cada mudança de humor, a cada virada no caminho a tudo que te move pelo caminho.
Minha vida segue caminhos que desconheço, surpresas boas acontecem, quebrando alguns “mitos”, criados por mim, criados por outros, o que importa?
Sentir, viver o que se tem vontade por mais diferente ou inesperado melhor, se jogar no mundo ou “fumar até a última ponta” o que a maioria das pessoas que eu conheço quer: é sentir uma paixão, um amor, algo que vire seu próprio mundo de ponta cabeça, criando novos ângulos agudos que furam e dão aquela dorzinha de leve na gente, mas essa dorzinha gera novos medos, ansiedade e com tudo isso novas expectativas
Meu mundo se move lentamente em uma direção a qual não tenho muita certeza, mas não me importo, não é cedo pra dizer que me importo, não é cedo pra dizer que te adoro. Prefiro cedo ao tarde.

(Whatever life brings, I'm cool)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Acordar

Acordo com teus carinhos e finjo dormir para que você não pare, você percebe que já acordei e desce beijando pelo meu pescoço até o resto de meu corpo. Em uma parte qualquer dele, eu já com minha respiração ofegante não consigo mais fingir e um gemido solta-se de minha boca. Este gemido é sufocado pela tua língua que entra entre meus lábios. Beijos úmidos em um começo de dia quente. Abraços de um desejo latente. Se tivesse que morrer agora queria morrer em teus braços.
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"Donde expira un pensamiento hay una idea, en el último suspiro de la alegría otra alegría, en la punta de la espada la magia: es allí adonde voy. "
(Clarice Lispector)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Je panique

Tudo aconteceu assim muito, mas muito rápido mesmo. Certa noite, calçada com seus peep toes, meias pretas (muito grossas) e vestida com seu vestido listrado de roxo, cyan, vert e lilac com grandes botões carmim e um decote bem generoso atrás e na frente, no braço esquerdo pulseira de acrílico fosco e sua bolsinha vintage, em sua mão direita uma taça de Cosmopolitan. Cabelos claros ao estilo Califórnia’Sun-Kissed, com largos cachos passando dos ombros presos com algo que os deixavam com um estilo meio moicano. Pisciana.
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Tudo parecia rodar, o strobe piscava muito rápido, rápido demais. Naquela noite, ele se esquecera de por um cinto, seu jeans surrado pendia do lado do bolso da carteira, camiseta branca, blazer preto de sarja com moletom azul por baixo, no braço direito, pulseira de couro dessas compradas na Praça Benedito Calisto ou República (tanto faz). Na mão direita uma lata de cerveja (Nacional). Calçado com seu tênis verde estilo “Allstar”. Cabelos despenteados pelo vento que neste dia dava a impressão de que tudo passava num segundo. Canceriano.
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Ela estava beijando um cara que acabara de conhecer, por um momento achou que sua amiga tinha dito algo, abriu um dos olhos e não a viu, mas viu este rapaz (bonito) que passava frente ao bar onde ela estava, era parecia engraçado, ele parecia bêbado, quase que cambaleava pela tontura que o strobe dava. Fechou o olho novamente, em sua mente via a imagem do rapaz, sentiu vontade de rir. Ele apenas tentava chegar ao meio do club, acabara de sair de um relacionamento muito longo, olhava pra todo mundo, mas nem pensava em envolvimento com ninguém. Queria apenas queimar a bruxa na fogueira e suar toda sua tristeza na pista de dança. O strobe parou, ele já conseguia andar normalmente.
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O cara que ela beijava disse que ia ao banheiro, ela disse que tudo bem, virou sua taça de uma vez e colocou a no balcão. Ele ouviu uma musica gostava, começar, virou sua lata queria estar com a mãos livres. Ela foi chegando perto, tirou um cigarro da bolsa, ela tinha isqueiro, mas virou pra ele e pediu “fogo”. Ele abriu os olhos e sorriu, ela era mesmo muito bonita, disse algo em seu ouvido, mas ela não entendeu. E colocou seus lábios perto do ouvido dele e perguntou o que tinha dito. Ele sorriu de novo, sorriso branco, boca vermelha, olhos verdes. Eu não fumo foi o que ele disse. Ela pensou em voltar ao bar e enquanto começa virar os ombros e sair. Ele a puxou pela cintura e disse pra ela esperar esta música acabar por que era muito boa. Começaram a dançar juntos.
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E muito rápido, muito rápido mesmo, rápido demais até. Eles começaram a se beijar. Ela, olhos castanhos fechados, boca carnuda que encontrava a boca dele. Não perguntaram nomes, um abraço que era como entrar dentro dos braços e corpo dele. Ele tonto, excitado pelo cheiro dela. A bebida nos dois, ditava a intensidade de seus beijos. A pista começou ficar muito apertada decidiram ir pra um canto mais sossegado. Sem tempo, a vontade de mais e além era muito grande. Ele morava com amigos. Ela morava sozinha, o carro dele seguiu o dela. Do lado de fora, chuva e frio dentro de cada carro um desejo que crescia (e como crescia).
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Carro dele fora do prédio, carro dela na garagem, ele achou que tudo era bom demais para estar acontecendo, teve medo de que ela não saísse do prédio, pensou em ligar pra ela (mas desistiu). Ela se preocupava, achava que ele tivesse ido embora, o elevador demorava, pensou em ligar pra ele (na garagem não havia sinal). Muito rápido (não o suficiente). Eles estavam entrando no prédio. Elevador demorado. Moro no quinto andar, ela disse, ele encostando seu corpo no dela pensou, “ainda bem que não é no 20°”, e eles se beijaram.
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Da porta pra dentro daquele apartamento, nada muito importante foi dito, mas todo o resto foi feito, durante horas, e depois de novo e de novo. Era uma coisa louca, eles eram dois estranhos, mas isso não parecia importar. Era como se o tempo do lado de fora de lá não existisse, era como essa intimidade já fosse conhecida, era com se estes beijos já fossem de lábios “antigos” em suas vidas.
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Ele dormiu lá, corpo nu abraçado ao corpo nu dela. Quando ela pegou no sono já brilhava o sol do lado de fora do apartamento. Ao acordar beijos, aqueles de quem acabaram de acordar, mas pra eles isso não importava. E eles esquentaram, e foi muito bom para os dois. Banho, juntos, cheiro de café, cheiro de French Toast, ainda cheiro de sabonete que deu vontade de mais banho. Decidiram sair pra almoçar juntos, podiam andar até algum lugar bonitinho por perto do apartamento dela. Eles comeram e beberam, deram muitas risadas e conversaram sobre tudo que não tinham conversado antes.
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Ele a deixou na porta do apartamento. Ela o puxou pela mão e deu lhe um beijo muito sentido. Ele pensou que era cedo demais, mas era o que ele precisava mesmo. Ela achou que foi bom demais, era o que ela queria. Ele foi embora feliz pensando em mandar uma mensagem para agradecer e fez. Ela respondeu logo em seguida, arrumando a bagunça que eles fizeram no apartamento. Mas no final das contas. Eles nunca mais se viram. A vida muda tudo muito rápido, muito rápido mesmo, rápido demais até que dá pânico, insegurança, medo, e esse medo idiota, pânico e insegurança fizeram com que os dois não tentassem. Jogando tudo que aconteceu nas mãos do destino.
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(Quando não tentamos o destino faz apenas o que ele quer e quando quer)
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segunda-feira, 22 de junho de 2009

Porcupine


Tuas costas tem espinhos.

Em teus braços, a tua maneira,

carinho.

Com teus espinhos arranca de minha cama,

lençois.

Na partida do meu carinho, como espinho, em teus braços,

meu cheiro.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Bits and pieces of a recycled life.

Pelo caminho algumas vezes o passado e o presente se colidem e como em qualquer outra colisão isto deixa a vida da gente um tanto quanto bagunçada e um tanto quanto cheia de rebarbas e detritos e isso tudo não está por fora onde podemos juntar tudo por num saco de lixo e jogar fora. Essa bagunça, restos, detritos, rebarbas estão no pior lugar, naquele mais difícil de ser acessado. Dentro do coração.
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E este com essa bagunça toda dentro dele, fica apertado, fica cheio, inchado, fica tão maior do que é que a sensação que da é que ele está muito próximo da boca. É como se um pedaço dele estive quase por sair por ela meio que entalado na garganta.
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E o que se faz quando isso acontece? Eu acho que ir atrás dos detritos e tentar por ordem neles é a melhor solução, vasculhar lá dentro e por pra fora de alguma maneira, tentar juntar os pedaços, os pequenos colocamos numa sacola e jogamos fora e os que são grandes demais pra enfiar numa sacola agente dá outro jeito.
(E qual será este jeito de se dar jeito em coisas que não tem jeito?)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Eu Heim.

Conversando com uma amiga “gay-l”, falando das diferentes possibilidades de romances,
-Escorrega teu dedo pra dentro de minha boca...
E falávamos de como tem gente estranha no mundo, principalmente neste universo,
-Force até o fundo, tire meu fôlego...
Eu não sei o que dizer, pois já vi e ouvi coisas que ainda me deixam intrigado,
-Com tua outra mão, pegue meu braço e gira teu corpo pra trás de mim...
Eu não sei se ainda sou um pouco ou muito “puritano” em relação algumas coisas,
-Segurando com força meu braço atrás de meu corpo, não tire, de minha boca, o outro dedo...
Na verdade acho que algumas coisas até passam, quando se está lá, no “calor do momento”,
-Deixe-me sentir o calor do teu corpo, largue meu braço e coloque tua mão dentro de minhas calças...
Mas realmente, ainda assim, tem, algumas coisas, que, fazer, em pé, em frente delegacias me dão um pouco de medo.
-Isso, fundo, quero “acabar” assim, de frente pra eles...
Sei lá né, como disse o M: "Ado, aado, cada um com seu pote de picles"

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Avoir de la "fièvre"

Rumo, sem rumo, desatento, desocupado, passado. Cara não existe coisa pior do que esperar pelos outros, pior ainda é não poder fazer nada enquanto se espera. As pessoas às vezes perdem a noção e isso me irrita muito. O que é obvio deveria ser visto e entendido e não deixar confuso. Todos os sinais estão na tua cara. O menino que te ama. A menina que te quer. É duro quando as pessoas tem muitos dedos, pra segurar coisas que são simples e se pega apenas com um dedo só. Amigos que passam por isso, eu passo por isso. Tá com medinho? Toma vergonha e seja "HOMEM", "MULHER". Ta na sua cara, olhe e veja, sem medo, sem ressalvas, aproveita-o-que-o-destino-te-deu-de-mão-beijada, divirta-se, se esbalde e como diria a Marta: “Relaxa e goza”.
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(Por pior que isso possa suar, eu adoro, quando as coisas vem ao seu tempo, mas realmente esperar não é uma das minhas virtudes, eu enjôo, fácil já disse isso antes, e acho melhor quando as pessoas tomam atitudes rápidas, nem precisam ser exatas, mas algo precisa acontecer, senão eu me desprendo tão rápido como me prendi)
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(Hahahahahahaha!!!!!!! Muitos dedos nas mãos e nenhuma ação delas no meu corpo, urgh!)

(Alô, alô turista, segue o conselho da Martinha)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Dorme comigo esta noite.

Estava frio era uma noite dessas com cara de noite de Fog Londrino. Dorme comigo está noite pensei em dizer, mas me perguntou, antes, se podia dormir em minha casa. Eu ainda moro com meus pais, gostaria muito de te levar pra minha, mas acho que temos que ir pra tua. Não sei se deveria perguntar isso pra você, mas queria que soubesse que penso muito em você quando tomo banho e não consigo estar perto e não querer ficar mais tempo. Posso. Não disse não.

Daqui a pouco será dia e um pouco mais difícil de partir, devemos ir agora. Veja a lua que linda, está encoberta pelas nuvens, vê-se apenas sua luz na frente do céu negro. Está frio, me abraça, podemos caminhar assim até lá, você se importa? Jamais me importaria em receber um abraço. Espera um pouco olha pra mim, o que tem de diferente em você? Não consigo afirmar ao certo. Deve ser você. Então um beijo.

E mais outro ainda melhor do que o primeiro da surpresa. Assim caminharam, entre beijos, abraçados, debaixo do sereno, suas mochilas nas costas, uma típica noite paulista, sem pressa, sem medo, sem mentiras, era tudo o que não era, era mais do que esperavam.

Ao chegar, banho quente sem motivo pra pensar no que não estava e apenas aproveitar o que se tinha, debaixo dos lençóis sussurros, beijos e abraços. Um ser mais do que podia ser, enquanto nada mais restava do lado de fora, além do frio que já não estava mais dentro, estava trancado embaixo do sereno daquela noite fria.

(Adoro falar de razões que não tem lógica, de sentidos que nos dão voltas)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Obrigado por aquele verão.

Sentia no ar o cheiro de manga madura, enquanto andava para a beira do rio para tentar refrescar minha pele que ardia com o calor daquela terra, passava pelas vacas, bois e touros. As vacas com suas grandes tetas e seus sinos barulhentos, os touros tem chifres e bolas, os bois, são só os bois.

Tentava fazer sentido de tudo que estava a minha volta, o verde que sofria com a falta de chuva, o burro que pastava magro, no fundo o barulho da cachoeira e o cachorro que latia avisando que chegara alguém. Não estava preocupado com isso queria apenas molhar minha cabeça em baixo das arvores na beira do rio. Sentia que aquele dia seria mais um dia sem sentido, mais um dia de inércia, não queria pensar nos meus problemas e já vinha fazendo isso por alguns dias.

As crianças no sitio do lado gargalhavam e suas risadas ecoavam por todo lado, mas isso não me incomodava, sentia que o sitio era muito mais barulhento do que a cidade e isso me agradava, apesar de procurar paz, também não curtia silêncio total. Ele me fazia me sentir só e na solidão dos meus pensamentos e na presença de algumas lembranças ficava triste.

Tirei a tolha de dentro de um cesto de palha que carregava, dentro dele havia também uma garrafa d’água uma faca, uma manga e uma banana, caso a fome apertasse demais. Tirei toda minha roupa e coloquei encima da pedra. Fui andando em direção água. Passei pelo antigo balanço que estava lá, ainda, pendurado naquela arvore de galhos que alcançavam a outra margem do rio.

Comecei a lembrar de uma história que ouvia na infância, quando alguns, antes de mim, primos e seus amigos e algumas primas e suas amigas que passavam o verão no sítio. Era muito divertido, apostavam corrida pra ver quem chegava primeiro até o rio e quem perdesse teria que carregar de volta para a casa todas as cestas, mochilas e sacolas que levavam com guloseimas e roupas para a beira do rio.

Era tudo muito ingênuo, as meninas e os meninos tiravam as roupas e nadavam pelados, mas com a puberdade as coisas foram mudando as meninas iam de manhã e os meninos à tarde porque caso perdessem noção da hora eles não tinha medo de voltar no escuro. Era assim o combinado. Meu avô fazia questão de que cumprissem o combinado, mas era inevitável as vezes que esse combinado se embananasse todo, lógico que os meninos iam escondidos espiar as meninas, que já espertas tomavam banho no rio com suas roupas de baixo, e às vezes o contrário acontecia também, mas os meninos, amostrados, faziam questão de ficar nus mostrando que já estavam virando homens e os pelos já existiam.

Mas era tudo tão simples então, até que as paixões começaram a se desenvolver, junto com os corpos, primos não podiam namorar, era o que diziam, mas é claro que muitos namoravam durante o verão no sitio escondidos dos pais, nenhum deles comentava nada, na verdade cada um era muito cúmplice do outro e era assim que viviam, era assim que descobriam muitas coisas sobre eles e sobre os outros. E foi então num final de verão que dois deles se apaixonaram. Ele não era primo era amigo do primo e ela queria mesmo era aproveitar o resto das estações com ele. Foi no final daquele verão de 75 e antes do próximo verão eu nasci.
(De sol em sol a terra se consome,
De dias em dias o tempo lentamente vai se acabando.
E o que sobra pra gente além das lembranças. E das lembranças o que sobra? Só as boas?
)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O último anoitecer "dela".

Depois de dias em debate com seus amigos sobre o que seu namorado havia lhe pedido, pensou e pensou e numa decisão louca decidiu que aquela seria a sua última vez. Seus amigos eram contra sua decisão, mas ele por amor estava disposto a colocar seu passado para trás de uma vez por todas e recomeçar do zero, sabia que sua vida seria um tanto difícil daqui pra frente. Não iria morrer de fome, mas seu diploma de contabilidade estava já há alguns anos guardado e trancafiado dentro de uma gaveta qualquer, no lugar dele na parede, um diploma de maquiador e muitas fotos de seus shows pelo Brasil.

. (Proximo a Estação da Luz)
Decidiu então que aquela seria a noite que o marcaria para sempre, vendo pela janela o dia escurecer do lado de fora, começou então sua última montação. Enrolou uma toalha na cabeça e começou pela barba, o chuchu já crescia, uma boa depilação seria o começo da preparação para a maquiagem, raspou seu rosto de cima para baixo e de baixo para cima, aparou os pelos de sua narina, tirou o excesso de pelos da sobrancelha, fez uma esfoliação na pele do rosto, pôs uma mascara e foi ao armário procurar uma roupa praquele dia especial, afinal era uma convenção e todas as suas rivais estariam no encontro, sabia que muitas ficariam felizes que ele (a) estava “deixando a cena” seria para algumas a chance de ter um lugar ao sol também já que ela era super requisitada para shows.

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Na cabeça dele existiam duas pessoas separadas ali e com personalidades extremamente diferentes, um lado mulher muitíssimo “female fatale” rosto marcante e sexy com um corpo esguio e quadril largo, corajosa, profissional, dançarina, auto-suficiente e invejada. Do outro lado existia um rapaz tímido, rosto delicado, com um corpo frágil demais para ser homem, não gostava da profissão (que os pais escolheram pra ele), desengonçado com as mãos, extremamente apaixonado, afetivo e dependente do carinho das pessoas.

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Pensou na cor, pensou em preto, mas aquilo não era um enterro, lembrou da história da Fênix e como ela ressurgia das cinzas, gostou da idéia então seu look teria muitas penas coloridas de seu bolerinho espanhol, tons de vermelho, roxo, azul cobalto e um pouco de azul “Mozart”. Queria ser lembrada como sexy e outrageous, adorava essa palavra. Um vestido com lantejoulas e fendas matadoras que subia por suas pernas longas e torneadas, marcaria por cima deste vestido com um corselete de couro, que trouxe de uma viagem a Paris, sua cintura fina, o vestido era tomara-que-caia, então os seus “seios” teriam que ser daquele enchimento de silicone transparente por baixo de sue peito natural. No colo do seu peito usaria um colar de pedras semipreciosas brasileiras que comprou próximo ao Picadilly Circus em uma viagem que fez a Londres. Pensaria nos sapatos, peruca e anéis depois a pele do rosto repuxava por causa da mascara decidiu ir ao banho.

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Depilaria as pernas e axilas, usaria exfoliante no resto do corpo, queria ficar com a pele macia para pela última vez sentir a sensação daquela mistura topa de tecido e matérias cobrindo seu corpo, seus cabelos na altura dos ombros seriam cortados em breve, no lugar das lentes de contado voltaria a usar seus antigos óculos de armação grande e preta, suas unhas compridas e pintadas estilo “francesinha”, também seriam curtas novamente no final de seus dedos longos e brancos.

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Passou hidratante em todo seu corpo, primeiro passou gelo em toda a pele de seu rosto e demoradamente e cuidadosamente fez sua maquiagem, corretivo, base colocada em pequenos dots acumulando e formando uma mascara de pó compacto e proteção, cílios postiços muito longos e bordô, sobrancelhas cobertas pelo mesmo tom do rosto davam lugar a uma nova redesenhada habilmente por suas mão firmes. Batom e por cima do batom, gloss e por cima do gloss um pouco de glitter.

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Vestiu seu vestido, encaixou seus seios por baixo de seus peitos e para segurar tudo no lugar seu corselete, sem meias-finas calçou seus saltos de vinil preto altississímos meio plataforma na frente e salto de ferro. Abriu outra porta do guarda-roupa e prateleiras de perucas, pensou em morena, era seu natural, como ruiva fazia muito sucesso, mas as loiras sempre se divertem muito mais, lisas Heidi ou cacheadas Giselle. Lisas definitivamente, anéis, pulseiras, uma bolsinha básica, bolerinho e muito perfume no colo do pescoço, nos pulsos, atrás das orelhas e seus brincos gigantes e muito mais perfume na peruca.

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Seu taxista-amigo-marido já esperava na portaria do prédio, quando a porta do elevador abriu, ele levou um susto, afinal ele (a) havia prometido que não se montaria mais, então ele perguntou o porquê e ela decidida disse: Darling essa é minha última noite e preciso brilhar você não irá comigo, irá me deixar na porta e nos encontramos em casa depois de seu turno, quando esta noite acabar tudo será como combinamos. E ele beijou sua mão, disse ok, abriu a porta carro para que ela entrasse, não disse uma palavra durante o caminho inteiro apenas colocou a mão dela em sua coxa e sua mão por cima da dela e disse que a pegaria pela manhã quando estivesse voltando do trabalho.

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(Acordos selados com beijos são melhores do que acordos fixados com apertos de mãos)

sexta-feira, 20 de março de 2009

Eu coração SP

Esses dias atrás, tentando curtir o resto dos dias quentes de verão, sai sem destino e sem “querer” passei em frente a sua casa, pensei em parar e tocar a companhia, mas sabia que você não estava, não vi seu carro na garagem. Na verdade eu sei que você não mora mais lá. Não sei dizer se algo positivo ou negativo me passou pela cabeça ou pelo o coração, por que não é só o fato de passar em frente sua ex casa que me tonteia a mente ou me aperta o coração.

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Sua casa, nossa, já foi palco de muitas alegrias, mas também muitas tristezas, muita festas, muitas brigas, o passar pela frente dela eu posso evitar. Mas a cidade inteira lembra você, minha cidade, sua cidade, onde nascemos e a qual escolhemos pra viver, podíamos estar em qualquer outra parte do país, qualquer outro lugar do mundo, mas estamos aqui.

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E vivemos tentando não nos esbarrar (pelo menos eu), sinto quando você vai chegar aos lugares que estou, então tento sempre sair pela porta dos fundos pra não ter que te encontrar. Como naquele dia do bar, quando senti que você chegava, me despedi rapidamente dos amigos, sem explicar o motivo, peguei minhas coisas e rumei sentido à saída dos fundos, você neste momento entrava, mas esqueceu algo no carro e teve que voltar.

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O destino é uma bruxa e suas maneiras, joga seus encantos na vida da gente e com suas maneiras de mudar o caminho do homem, encanta tudo à que sorri. Ainda lembro, final de outono começo de inverno e a cidade tremia com ventos gelados e temperaturas baixas, baixas o suficiente para fazer fumaça com o ar quente que saia da gente. Enquanto pegava meu casaco, acabamos por esbarrar um no outro, você sorriu pra mim e eu sem graça tentei disfarçar meu nervosismo, não queria que você me visse daquele jeito, cheio de barba, com a mesma roupa suada de um dia inteiro de trabalho. Você estava linda como sempre, maquiada como uma boneca, saltos altos, cabelos presos, seu casaco cobria seu vestido decotado, exatamente como eu gosto, seu perfume logo me inebriou, entonteceu, fiquei mais tenso do que estava.

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Sorri com cara de surpresa (mas eu já sabia que você estava por perto). Você me sorriu com cara de saudade e perguntou por que eu estava indo embora, eu menti. Disse que estava chegando, seu sorriso foi verdadeiro quando me pediu pra sentar com você e suas amigas moderninhas. Eu sinto muito tua falta pensei em dizer, mas recusei seu convite, disse que era aniversário de um brother (menti de novo). Você colocou suas mãos pra trás e olhou para seus sapatos, sinal de que estava decepcionada, mas levantou sua cabeça e me deu um beijo, doce, nos lábios. Sei que você quer que sejamos amigos, só amigos. Mas pra mim ainda não dá, fui louco por você e por tanto tempo e apesar de tudo que passamos juntos, às vezes sinto que esta cidade ficou minúscula pra nós dois, nossos velhos sonhos e futuros amores. E mesmo amando esta cidade mais que todas as outras que conheci, acho que é hora deu partir, por que eu ainda te amo mais do qualquer uma que já amei.

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(A saída é tão perto da entrada quanto o coração do estômago)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Olhos, asfalto e perfume.

Procurava entre minhas coisas, alguma coisa física que poderia me ajudar a lembrar você. Esvaziava os bolsos, das calças do terno de risca de giz, do bolso do paletó também, fui tolo o suficiente em checar até mesmo embaixo da gravata.
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Haviam retirado dos bolsos uma carteira, alguns documentos, uns R$ 70,00, alguns cartões de crédito, cartões de visita de amigos e desconhecidos, entre os cartões uma foto 3X4, mas não era a tua. Dois chicletes restavam no bolso, destes um sem mastigar e o outro mastigado e embolado num pedaço de folha de caderno, não tinha lixo pra jogar então coloquei no bolso. Havia também as chaves do carro e de casa, não da tua, somente da minha. Meu telefone celular, sem ligações perdidas ou mensagens não lidas. O crachá da empresa, me esquecera de devolver na saída do prédio, nem lembro como sai. Correndo atrás de você. No meio da multidão em minha frente via apenas teus olhos no reflexo do espelho do elevador.
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Na verdade não me lembro como cheguei ao meio desta avenida onde estou agora deitado, vejo, de olhos fechados, o povo que agora se aglomera, para me espiar, ainda ouço as buzinas dos carros em volta e o som da ambulância que se aproxima. Vejo, agora de cima, você correr em direção o bolo de gente, em teus olhos vejo desespero, mas você nem me conhecia, vejo lágrimas em teus olhos e de repente, me deu um alívio, você me notara também, quando passou saindo apressado do elevador, vi um breve sorriso e meu coração encheu-se de alegria e segou-se, atravessando a rua tentando te alcançar não vi o carro se aproximar, nem ouvi buzinar. Meu corpo foi leve ao ar e forte bateu, depois de minha cabeça, ao chão. Quando você olhou pra trás.
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Deixe-me passar, sou médico você disse. Mas não era de verdade apenas, trêmulo, segurou minha mão e a única lembrança que ficou foi teu calor que esquentava minha mão que esfriava e teu cheiro que chegava até a mim, eu, agora em pé e levemente curvado ao teu lado, que ajoelhado estava ao lado do que era eu, senti o cheiro de teu perfume enquanto sussurrava em teu ouvido: Foi amor a primeira vista não foi?
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(Uma eterninade não apaga algumas coisas nem mesmo o perfume, amado, que o cheiro durou apenas alguns segundos. Melhor um amor que durou segundos, do que uma vida sem amor)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ilusões. Uma vida. Três amores, uma escolha.

Tenho 37 anos e sómente agora muitas coisas fazem sentido pra mim, percebi que vivera uma vida muito boa, até então. Sempre tive tudo, até mesmo o que não quis. Estudei nas melhores escolas, viajei quase o mundo todo à custa do esforço e dinheiro de minha família.
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Família essa que descobri que não era minha de verdade, bom era de verdade, pois era a única que conheci, mas mesmo assim nossa relação não era de sangue. Descobri isso há dois anos quando minha mãe faleceu. Antes de morrer ela me pediu pra continuar visitando meu pai e nunca sentir raiva dele por nenhum motivo. Ela me disse que fui adotado ainda muito pequeno. Mas não falou mais nada além disso, porque não ter raiva de meu pai?
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Meu pai sempre foi um homem muito carinhoso com seus amigos, mas nunca me deu muita atenção, sempre achei que ele não gostava muito de mim. Minha mãe, muito carinhosa, era quase uma esposa japonesa, sempre andava atrás dele nunca ao seu lado. Ele lhe dava muitos presentes, pra mim também.
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Ele falava pouco. Era muito bom em dar broncas, sempre exigiu muito de mim, às vezes parecia que ele tinha raiva de mim, eu sempre fui livre pra fazer o que queria, mas eu tinha que ser bom na escola, nos esportes, e principalmente nas aulas de piano. Nas noites de sábado, antes de sair com os amigos, era obrigado jantar com meus pais e depois do jantar, tocava sempre uma música no piano para ele, só nestes dias achava que ele gostava de mim. Ao acabar ele beijava a mão de minha mãe, me dava um beijo na testa e ia dormir; Falava; maravilhoso filho, cada vez melhor, mas ainda tem que praticar mais.
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Mas já faz alguns dias que ele se foi, havia ficado por um tempo em um asilo, uns cinco anos antes de minha mãe morrer ele já havia ido pra lá. Com meu trabalho e todas as viagens, eu ia pouco ver meu pai, mas depois que minha mãe morreu comecei visitá-lo uma vez por semana. Todo sábado no final do dia, levava comigo uma fita cassete com a gravação de uma música tocada no piano por mim. Me doía um pouco velo daquele jeito.
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Numa sala meio escura sentado em uma cadeira em frente uma janela muito grande ia do chão ao teto, parecia esperar por alguém, sempre com a luz do dia morrendo atrás de sua silueta. Suas mãos brancas e enrugadas pareciam sempre frias e seus olhos verdes, sempre estáticos. Alguns dias ele estava inerte em seus pensamentos e outros bem lúcido me chamava pelo nome e foi aí, nestes dias de lucidez, que comecei entender o passado.
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Ele falava sempre de um Beto e da saudade que sentia do tal melhor amigo dele por muitos anos, Carlos Roberto Bianchi, que havia sumido no mundo faz muito tempo. Ele era um homem muito bonito, alto, forte, com seus olhos azuis e cabelos loiros, mas andava sempre sozinho, não era casado e nunca casou pelo que sei. Ele viajava muito com minha família, viagens internacionais e nacionais, praia e fazenda, mas lembro muito dele na fazenda, ele e meu pai saiam a cavalo e passavam horas fora, às vezes o dia inteiro.
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Lembro que no começo minha mãe reclamava um pouco, mas distraia-se conversando com o peão, eu morria de ciúmes dele (Beto), com ele meu pai parecia mais feliz, eles riam muito juntos, dava um pouco de raiva, pois ele conseguia arrancar, com cochichos, risadas estrondosas de meu pai. E eles se tocavam muito, eu nunca achei estranho nada disso, por que cresci com isso, mas morria de inveja de Beto que recebia mais atenção que eu.
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Foi no meu aniversário de vinte e um anos, que vi Beto pela última vez, eu já estava um pouco bêbado e vi meu pai e ele na sacada conversando, eles pareciam na verdade discutir por algum motivo, gesticulavam muito, mas sempre num tom baixo, só lembro de ouvir Beto dizer: Ele já tem vinte e um, agora é a hora! Meu pai respondeu: Você não entende, não me faça escolher. Beto foi embora deixando meu pai falando sozinho e com seus olhos cheios de lágrimas. Eu voltei pra dentro de casa e nada falei ou perguntei.
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Aquela havia sido a última vez que vi Beto, até o dia do enterro de meu pai, dezesseis anos depois, ele ainda é um homem bonito, o tempo não apagou de seu rosto o mesmo ar calmo que tinha, muitas rugas e marcas sim, mas aqueles olhos nunca perderam o brilho.
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E quando ele me disse: Menino, precisamos conversar. Senti minhas pernas tremerem sabia que talvez fosse melhor deixar o passado no passado. Mas também sentia muita curiosidade em saber por que ele sumira por tantos anos. Peguei em seu braço como meu pai fazia, e o convidei para tomarmos um café.
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Andamos para um restaurante meio que butequin na Dr. Arnaldo próximo ao cemitério, sentamos perto da janela, calados, ele só olhava o movimento dos carros e das pessoas passarem apressadas. Num instante ele me fitou nos olhos e disse: Teu pai te amava muito, do jeito dele mas te amava. Ele abriu mão de muita coisa, aliás tua mãe também.
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Abri a boca pensando em dizer algo, mas aqueles olhos calmos, controlavam minha boca, fechei e ele continuou:
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Seu pai foi um homem muito bem sucedido em sua carreira, diretor geral da América latina de uma grande empresa Americana, mas isso gastou muito sua alegria, muitos problemas, naquele tempo era diferente, ele teve que casar-se contra a vontade. Foi quando sem querer conehcemos tua mãe, ela era do interior, sem familia, veio pra São Paulo com sonho de ser atriz, mas acabou onde muitas meninas novas e sem familia acabam, pela vida, e numa noite andando pela Augusta após o teatro, nós a conhecemos, era uma noite fria de inverno e ela, recostada num carro parado, tremia dentro de suas roupas reduzidas, tinha dezessete anos e era muito bonita, anbiciosa, angelical e com o frescor da juventude, ficamos com pena dela e a convidamos pra tomar um café quente.
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E daí em diante, a vida dela, do teu pai e a minha mudou para sempre, ela precisava de um lar, teu pai de uma esposa e eu por amor estava disposto a aceitar qualquer coisa para velo feliz. Eles se casaram, seu pai foi promovido e transferido para a sede em Atlanta, eu fui junto, mas eles achavam que eles precisam de mais cobertura para aquelo “ato” então tua mãe se fingiu de grávida enquanto eu girava pelo inteiror à procura de uma criança para adotar, mas sem que ninguém soubesse de nada, o dinheiro cala as bocas mais famintas, foram longos nove meses, mas no oitavo mês, tudo deu certo, seu pai pegou a diretoria.
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E assim voce surgiu, filho de mãe solteira que morrera no parto, sem familia alguma pra tomar conta de voce e estes teus olhos amendoados, brilhavam pra mim, voce é tanto meu filho como filho deles eu te escolhi. Misto de raiva e e surpresa fazia girar minha cabeça, sentia vontade de levantar e sair correndo, chorando, minha vida, não, a vida deles tinha sido uma grande farsa.
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Aquela noite de seu aniversário de vinte e um anos e queria obrigar teu pai a largar tudo e finalmente dar continuidade ao nosso velho sonho, ir embora do Brasil, morar longe de tudo isso aqui, da família dele, dos compromissos com o escritório, faltava pouco pra ele se aposentar, eu queria fugir das paixões tóxicas de tua mãe e da influência que elas tinham em teu pai, ele ficava deprimido, pensavamos em levar você, mas isso sabiamos que seria dificil, voce já era adulto, podia ficar só. Mas teu pai jamais te abandonaria, nem mesmo por amor.
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Foi ai que fui embora, fui morar numa pequena casinha no interior e depois de dois anos tentando em vão convencer teu pai, decidi, eu, ir morar na Itália, seu pai quem me ajudou comprar minha casa lá, disse que essa seria minha parte no divórcio. E nunca mais nos falamos desde de então. Tua mãe me visitava sempre que queria fugir do teu pai, riamos muito lembrando do passado e das tolices dele, ela sempre trazia fotos tuas, me falava de tuas conquistas, dos teu casos e eu sempre tive muito orgulho de você.
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Eu não sabia o que dizer, não sentia raiva, apenas pena deles três. Tentava me imaginar no lugar deles três ou de pelo menos de um deles, no final das contas eles tiveram, ao mesmo tempo, tudo e nada, como deve ser sofrido fazer certas escolhas, me escolher, por isso entendo como meu pai era exigente comigo e com todos, o quanto ele me dava oportunidades de tentar as coisas e exigia que fosse bom em cada uma delas, por isso fez vista grossa em minha fase bissexual que passou super rápido, ainda bem, e eu achando que os enganava, todos esses pensamentos correram minha cabeça enquanto Beto tomava folego pra continuar:
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A vida é cheia de sacrifícios, não tenha raiva de teu pai por todas estas mentiras, ele amou tua mãe, mas nunca a tocou, ele me amava e disso tenho certeza, e o entendo, mas mais que tudo ele sempre te amou muito mais do que nós dois, viveu mentiras gigantescas e abriu mão da própia felicidade pra ficar perto de você.
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(Para BPN e FB e todos os outros que acreditam em sacrifícios e amores)

terça-feira, 3 de março de 2009

Leigo.

Um dia um professor de arte nos EUA estava muito bravo sobre uma crítica que fizeram à um new comer new yorker artist, ele disse: "Os leigos em arte deveriam se concentrar no todo e não nas pequenas partes.Por que o todo define o artista e suas técnicas e as pequenas partes definem apenas as técnicas do momento e não o artista." Mesmo acreditando que pequenos gestos também são importantes digo o mesmo aos leigos no assunto AMOR se concentrem no todo e não nas pequenas partes.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Foi se a cana como a foice corta o tempo.

Naquela praça da cidade, onde ainda existe aquele coreto, sentados num banco à sombra de uma árvore, o vento soprava lentamente e com ele cheirava o cheiro de chuva que chegava rápido.
Ele, entre aspas, perguntou sobre uma coisa que ela escondia. Pedido anterior, dela, por ajuda nunca foi escutado.
Ela, reticente engoliu em seco, pensou bem e decidiu falar a verdade.
Ele já sabia da verdade, mas queria, entre todas as vírgulas e interrogações, ouvir da boca dela. O que já sabia.
E então com seus olhos mareados e apertando sua sombrinha entre as mãos, ela pediu pra ele ficar. Esperava que chuvesse logo, queria misturar suas lágrimas com a água da chuva.
Ele arrumando seu chapéu, levantou-se, não teve coragem de perdoá-la, disse adeus. (Achava, lá no fundo, que o tempo daria jeito em tudo e que isso seria apenas um castigo)
Mas o castigo foi mútuo. (O orgulho é espinho na sola pé). Misto de raiva, arrependimento, tormentos que os perseguiriam por muito tempo... Não curou e não acabou, só aumentou. (Entrou mais ainda pra dentro da carne)
E assim o tempo passou... segundos empilhados em meses.
Passou cortando tudo pelo caminho como a foice corta a cana.
Algum tempo depois, veio a saudade que o moía por dentro, fazendo caldo de seu coração.
Ela, não conseguia esquecer a saudade e juntava os cacos que se partiam novamente, juntou tudo em uma mala e decidiu pegar, o último, trem daquela semana e partir daquela cidade. Pra sempre.
Naquela estação, era final de tarde e o sol arrastava a sombra do relógio no chão, sentia cheiro de merda de cavalo e via as pessoas que corriam apressadas de um lado para outro.
Ela já não tinha mais esperança de nada, ele correu para encontrá-la não sabia o que dizer. Adeus. Será que era isso mesmo que deveria fazer? Dizer?
Ela já estava na fila para entrar no trem, mas não deixou de olhar pra trás e ao ver seu chapéu movimentar-se, rápido, entre as outras cabeças, a esperança bateu forte em seu peito. Ela esperava que ele a pedisse pra ficar, mas ele não pediu.
(Ele pensou em pedir pra ela ficar, com ele, mas não teve coragem)
Ela pensou em chorar, mas esperaria até entrar no trem, havia prometido que jamais choraria na frente dele novamente. (Queria parecer forte como ele)
Ele, com seus olhos mareados, a segurou forte pelos os ombros e lhe deu um beijo que teria sido nos lábios. (Ele pensou em tentar novamente, mas teve medo)
Se ela não tivesse virado o rosto, para não olha-lo nos olhos e chorar. Parecer forte! (Pensou)
Ela queria que ele a beijasse, mas, beijasse, como se realmente este beijo representasse algo. Algo como um novo começo e não uma despedida.
O trem dava seu primeiro apito, cortando todas as conversas de quem estava em volta, assustando o som dos ponteiros do relógio que se moviam lentamente naquele momento.
Ela disse algo, entre o adeus e o cuide-se, mas ele não ouviu e milésimos de segundos depois ela já havia se arrependido. (Melhor que ele não tivesse ouvido)
Ele pensou em perguntar o que ela havia dito. Mas achou que explicações atrapalhariam aquele momento. E queria que o tempo andasse pra trás.
Ele segurava sua mão enquanto o trem, lentamente, partia. Seu destinos e seus corações.
Ela pensou em largar, mas sabia que aquela seria a última vez que o veria. Aquele rosto de quem tanto lhe amou.
Então ela apertou forte sua mão. Como se aquele amor fosse o último de sua vida.
Ao aumentar da velocidade do trem ele pensou em largar a mão dela, mas sabia que aquela seria a última vez que a veria. O resto seria apenas lembranças de olhos fechados e bem apertados.
Então ele segurou firme, acelerou seus passos e correu tentando acompanhar o trem.
Mas o céu já era escuro e o cheiro do ar agora era de carvão queimado, brasas e cinzas.
Chegara o fim daquela estação e o fim desta história.
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(Adriana Calcanhotto- Naquela Estação)

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sábado, 14 de fevereiro de 2009

Valentine’s day.

Pessoas que acham que o amor está em coisas e não em gestos, como o pai ausente que compra presentes caros para os filhos para compensar sua ausência. Ensinando que amar é dar tudo o que pode não e deixar faltar nada. (talvez uma forma).

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Pessoas que acham que o amor está ao redor nas coisas diárias e não dentro delas mesmas, como a esposa que passa o dia inteiro correndo atrás das crianças, cozinhando e arrumando a casa, esquecendo de cuidar dela mesma, e quando o marido chega está aquela doida descabelada toda peluda... (concorrência com as “mina” do escritório é foda), mas ela faz tudo em casa e não reclama, por que naquele momento a grana ta curta, as crianças são pequenas e quem educa e ama os filhos são os pais.

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Aqueles amigos que se calam, mas estão por perto, mesmo que você não tenha a opinião deles, você tem o seu ombro. Eles deixam você descobrir as coisas sozinho, mesmo que eles tenham descoberto tudo antes, mas eles estão lá, pra quando você percebe e chega ao ponto de chorar, esse amor de amigo. (eu gosto dos que falam também).

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Pessoas que passam tanto tempo se preocupando com os outros ao redor, família, amigos, amante e esquecem que pra acompanhar todos eles é preciso estar bem primeiro com seu próprio eu. O altruísta ao extremo chega a ser tolo às vezes. (sem comentários).

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Pessoas que se preocupam tanto com seu próprio eu que esquecem que amar é dividir sim e não se dividir entre outros amores, amor não é gratuito não, (as pessoas que nos amam exigem da gente e agente delas), ninguém ama alguém só por amar, amor tem obrigações sim. Ninguém quer só amar e não ser amado de volta, já está ai a primeira “obrigação”, ela é velada (nem sempre), mas está lá embutida no contrato do cúpido.

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Amor é assim, difícil de entender difícil de decifrar às vezes difícil de acompanhar, amor supostamente não deveria doer, mas quando dói, dói por muito tempo. Amor estranho que diz que agente pode tudo, mas a outra pessoa pode nada (esse dói mais ainda).

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Amor que é amor é comprometido, sem barreiras, surdo aos vizinhos, alheio aos defeitos dos outros, mas consciente dos seus próprios, corajoso, despretensioso, amigo, companheiro, aquele que sabe e reconhece suas próprias falhas muito antes da outra pessoa percebê-las, é assim bobo, ele não é por causa do que se pode ganhar, mas pelo que também se pode dar e dar não é cobrar depois, jogar na cara tudo que foi feito. Afinal era tudo pra ser por amor e de coração, mas amor não é estúpido, e se era pra ter, também, obrigações, ele acaba cobrando, entre uma coisa ou outra (realmente é difícil de entender).

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Amor é coisa de amantes e não de fracos, só me resta dizer:

Felicidade aos amantes e aos fracos paciência .


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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Gosto esquisito

Hoje acordei sentido um gosto esquisito na boca. Não, não era gosto de guarda-chuva, eu nem bebi ontem à noite, na verdade minha vida tem sido um tanto quanto pacata, saio de casa, super cedo, levo duas horas pra chegar ao trabalho, quando chego lá, sigo minha rotina de sempre.

Ligo meu computador, faço o login no sistema, penduro meu paletó na cadeira e vou à cafeteria pegar um café, com leite, por que tomo café demais (o médico disse que era melhor com leite); Desço de novo para o jardim do prédio que fica na entrada e fumo um cigarro, e volto pra minha sala de novo, finjo trabalhar, no almoço, quase todo dia, vou num kilo aqui do lado, com uma amiga (gostosa), que até me dá uma bola, mas é casada então finjo que não noto.

Ela sempre faz piadinhas sobre como minhas pernas devem ser grossas, por que eu joguei muito futebol quando era moço, com meus olhos verdes, estou quase com quarenta anos, mas ainda sou bonito e solteiro, corro na academia enquanto leio um livro, finais de semana sempre vou nadar num clube que meu irmão é sócio, somos bem parecidos então entro com a carteirinha dele.

Depois do almoço, ainda desço pra fumar outros cigarros e pego outros cafés, preparo meus relatórios super rápido pra quando der seis horas eu possa sair correndo e ir pra rua.

Sempre saio correndo para parecer que tenho um compromisso super importante, para que as pessoas não desconfiem que sou sozinho, quando me chamam nas sextas pra ir ao happyhour, eu sempre digo que tenho algo pra fazer, mas na verdade, às vezes, pego o metrô só pra ver gente diferente, vou de um lado para outro. Vou da linha verde pra azul, pra vermelha, pra azul de novo e volto pra verde que é linha que me leva pra perto de casa.

Chego em casa descongelo algo pra comer, pego um livro e leio enquanto como, (não tenho TV), até me dar sono. Tomo banho escovo meus dentes e vou dormir, pra começar tudo de novo no dia seguinte.

Mas ontem foi diferente, acho que por isso sinto este gosto em minha boca, eu me apaixonei perdidamente por você, na linha verde eu te vi, estávamos indo pra mesma direção, você com seus cabelos vermelhos e encaracolados, passei por você e tentei pegar teu perfume, ele está na minha memória, sua pele branca com sardas, seus sapatos de saltos super altos e suas unhas vermelhas, meu DEUS, queria que você tivesse sentido seu coração parar por mim como o meu parou por você. Acho que este gosto de minha boca deve ser paixão.

(Pracy)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Para entender um grande amor.


Para entender um grande amor.

O que é preciso pra entender o porquê dos por quês...

Começo minha história assim:

Depois de uma noite chuvosa de outono veio um leve e frio nevoeiro que cobria os morros do Grajaú, aos primeiros raios de sol deixava eu minha casa a caminho do ponto final do ônibus, (pega-lo no ponto final era melhor por que eu podia enfrentar as duas horas do trajeto sentado), era mais um dia de uma semana longa acordava eu todos os dias as 4h da manhã e pelas 4e40 costumeiramente, depois de pegar uma subida sem fim, estava eu no ponto de ônibus para ir a pra faculdade.

Nada de muito e muito interessante acontecia nos cafundó do Graja (carinhosamente chamado pelos seus moradores). Mas neste dia, enrolado em um pacotinho de carne humana estava lá ele, deitado bem perto da cabine do Seu Fiscal, ninguém sabia como ele apareceu ou de onde apareceu, sua idade ou seu sobre nome.

Pensava eu: deve ter brotado por causa da chuva, mofô de um nevoeiro como cogumelos, parece ruim dizer esse tipo de coisa? Mas quem se importa, de verdade, com os pedintes de rua? Damos moedinhas só pra que eles vão embora o mais rápido possível.

Pois é, esse moço se dizia chamar Ademir, ou lhe deram esse nome, não sei ao certo. Mas o fato era que ele existia, simplesmente por existir, nada de mal fazia a ninguém a não ser pedir, pedia roupa, pedia comida, sempre comida, nunca dinheiro.

Durante alguns meses ele andava por lá subida acima, subida a baixo, falando sozinho, e ria muito com seu sorriso desdentado, a vida lhe parecia boa, davam lhe comida e ele se vestia com roupas usadas dos cobradores e motoristas de ônibus, então ele até parecia trabalhar pra própria empresa, por isso podia, (antes os passageiros entravam pela porta de trás do ônibus), entrar pela porta da frente do ônibus e “caronar” ao lado do motorista. Sempre o via em algum lugar da cidade perambulando, desbravando essa mata de cinismo, rindo e falando sozinho, às vezes ele me reconhecia e dava tchau, eu sempre correspondi com outro tchau de volta, achava legal o doido do bairro que falava sozinho saber de minha existência, assim como eu sabia da dele e hoje mais de dez anos depois escrevo um pouco sobre ele.

Ta ficando longa essa história não é?

Okay, o tempo foi passando, chegou o inverno e o Ademir, arrumou numa carona de um dos motoristas, que parou na subida antes de chegar ao final, com a frente do ônibus, cheia de uns pedaços de madeirite e ele assim, aos poucos, montou sua casinha ao pé do morro, encostada no muro do Barão do Rio Branco, uma pré-escola.

Era até simpática sua casinha, me passava um certo ar chaby-chic, com sua porta feita de um pedaço de lençol de chita com pequeninas flores coloridas e um dos lados do madeirite pintado com largas pinceladas displicentes de tinta branca.

A família cresceu, ele arrumou dois cachorros de rua, os quais ele criava com muito carinho, dividia sua comida e sua água e eles o seguiam com suas caldas abanantes por todo o bairro e ele sempre lhes dava muito carinho na cabeça. Com a chegada do inverno os cachorros dormiam junto dele dentro da pequenina casinha.

Foi-se o inverno e a primavera apontava com seus raios de sol e com suas florezinhas crescendo no mato perto da tal casinha do Ademir, que apesar de tudo ele parecia ser feliz. E numas dessas manhãs de primavera caminhando para o ponto, avistar sua casinha era obrigatório, pois de cima da subida eu podia ver todo o prézinho, e como num desabrochar de flores eu vi pela a primeira vez a ”Ademeia”, assim eu a chamava, pois não sabia e nunca soube seu nome. E quem era ela? Quem era a doida mulher, que carinhosamente se pendurava nos braços dele?

Uma figura tão estranha quanto ele e desdentada tal qual.

O tempo foi passando e foi ela ficando, dividindo com Ademir sua moradia, seus pequenos cachorros que a seguiam da mesma forma, mesmo quando ele estava “trabalhando seu perambular” por essa cidade louca.

Tudo então parecia fazer sentido até mesmo pra mim que só observa de longe, essa primavera aposto que foi mais colorida pra ele, acredito que as flores cheiravam melhor, via os dois abraçados badalando, sentido a brisa quente do verão, juntos pelo bairro, pedindo comida, sorrindo das coisas que um dizia ao outro ao pé do ouvido, trocando carinhos, sendo enxotados das portas, por que às vezes se excediam nos carinhos, brincando com seus cachorros e outras vezes fugindo das pedradas que a molecada do bairro atiravam, mas creio que nada mais importava a Ademir, mesmo o fim do outono e a chegada de outro inverno, porque finalmente sua triste existência fazia sentido, pois eles estavam juntos.