quinta-feira, 20 de novembro de 2008

No metrô

Sentado no metrô, minding my own business, lendo meu livro. Você entrou meio que carregado pela moça, olhei como quem olha pra qualquer outra coisa, a placa do nome da estação ou o relógio. (tirar o celular do bolso da calça apertada é foda).

Sentaram-se bem perto de mim.

Percebi que você olhava pra mim, mas me forçava a não olhar pra seus claros olhos azuis penetrantes... Seus cabelos bagunçados indicavam que você e havia acabado de acordar.

Sua pele branca e macia, rosada nas bochechas, sua boca semi aberta parecia querer dizer algo... Ai você disse:

Babababaaiouê. Heiepe

Não me contive e comecei a rir... Já quase descendo na minha estação; Que criança mais linda, disse eu a tua mãe e você sorriu ainda mais, uma gargalhada tão gostosa, gargalhada de bebê. Daí beicinho cara triste deu até vontade de voltar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Cidade


Adoro acordar e ouvir o som dos carros que passam numa famosa avenida perto de casa, sons de freadas, buzinas e roncos de motor de caminhões, são como os passarinhos que a longo tempo não ouço por aqui.

Abro minha janela e vejo mais um belo dia cinza começando, em meio à neblina da cidade avisto outros vizinhos, dos prédios aos lados, acendendo suas luzinhas (pequenas) siluetas e movimentos de um lado para outro em seus pequenos apartamentos.

Imagino que jamais conseguiria viver senão em outra cidade grande e cinza, onde pessoas passam todos os dias umas pelas outras (anônimas), alheias. Gosto disso, gosto de ter minha imagem livre de qualquer coisa que me vincule a outra coisa, gosto de ser assim invisível, apenas mais um, em meio aos carros, gosto de ser descoberto e esquecido quando atravesso a rua enquanto o farol está fechado para pedestres, a lembrança de mim é apenas um vulto e o eco da buzina, que me segue até eu chegar à outra calçada. (Eu sou o amigo que atravessa a rua).

No meu dia a dia observo as mesmas pessoas que entram em ônibus e metro sempre no mesmo horário, sempre sem nome, a caminho do trabalho, escola ou sei lá pra onde. Não sei se me percebem da mesma maneira que eu as percebo, olhos puxados, verdes, castanhos, cabelos, cacheados, lisos, alisados, altos, baixas, magras ou gordos, são apenas mais alguns rostos que lembrarei depois, talvez os veja novamente talvez nunca mais, é essa a beleza de não ser.

O entardecer é belo, o céu vai se tingindo de um azul escuro misturado ao cinza da poluição, o laranja do sol se pondo, avistado apenas por entre os prédios ou quando vou para o meio da rua, é diferente, é cor de sol se pondo na cidade, é tinto como tinta feita por pintores, nunca igual à outra cidade.

E o anoitecer? O céu é de um azul profundo, azul da meia-noite quase negro, nenhuma estrela brilha, as luzes gritantes daqui de baixo ofuscam as luzes tímidas lá de cima, como em desenhos de artistas contemporâneos, os prédios se misturam ao fundo, vê-se apenas as luzes amarelas dos apartamentos, por vezes solitárias, por vezes mudas no meio do balançar dos galhos soprados pelos ventos que se prendem em meio aos prédios.


terça-feira, 18 de novembro de 2008

Arrastando tudo.


Os ventos que sopram do norte já te avisam dos perigos que têm por vir.


Arrastando, tudo que se move e que está preso a terra, com suas asas grandes e pretas como se tudo abaixo fosse pó.


Arrasta a mesquinharia do homem e a gargalhada da velha mulher que tece sua teia, choros, soluços e sorrisos ecoam no silêncio sonoro que mais parecem trovões.


Candido ou perverso, vícios malditos ou hábitos deliciosos... Miséria e riqueza, tudo, reboa ao seu passar sentido ao sul, dizem que o inferno está nesta direção, deve ser por isso que nela vai... carregando tudo pra cima pra levar pra baixo.


A maldita é até bela, com sua couraça metálica reflete a luz da vida e dá ao poeta a alegria, da dor, para compor, também ao compositor, dizem que sua irmã até inspira alguns também, porém ela é mais contida e pálida, (disforme pelo balançar de quem ri).


É a tristeza que canta as canções mais bonitas, (talvez sejam os gritos e risadas que formam sua melodia), e compõe os versos mais belos, (toda miséria do homem e riqueza), que motiva a saudade do pintor traduzida em tela, (todos os rostos de gozos e amores).


Sua infame intrínseca que não me deixa.


(Para APN)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Final inevitável

Esta semana será curta, e o final de semana será longo.
Tanta coisa pra fazer final, inevitável, de ano está chegando e o de semestre já me pegou. (Provas, Barbies, trabalhos, vestidos, seminários, modelagem, apresentações, calças)
Todo mundo tem pressa, porém a cidade parece ficar mais alegre mais colorida e muito mais cheia.
Andei pela 25 de Março um desses dias, precisava comprar tecido pra um trabalho da facul...
Tanta gente, dá até um pouco de bode. Todos correm de um lado para o outro, atravessam as ruas na frente dos carros, até mesmo quem anda de bengala, carrega sacolas enormes...Esse é o espírito do Natal chegando?
Na verdade não gosto de Natal, acho chato, prefiro o Ano novo, muito mais divertido...aquela velha idéia de novo:
Tudo será melhor ano que vem, bom assim pelo menos, todos esperamos.

Se ela viesse!


Esperava que a chuva viesse, mas ela não veio.
Os ventos levaram as nuvens pra bem longe, queria eu ter ido junto, pois não sei ainda agüento ficar sentada nesta cadeira, equilibrada em uma perna só, em cima desse muro alto, tão alto.


Difícil de equilibrar-me, quase nem me movo...às vezes uns peixes estranhos e voadores passam por aqui, eles podem ser bem malvados, ficam dando rasantes sobre mim, tentando me derrubar os gatos da janela apenas olham e sorriem podiam 'estar' fazendo seu trabalho...se pegam pássaros e gostam de peixes, combinação melhor não há...peixes voadores? Pode!


Mas também nem sei mais... o que pode e o que aqui posso, nem sei se ainda estou, parece confuso tudo isso. É como levitar sobre você mesmo. Parece uma inércia incoerente como da amiga Alice, que tortura, sou mais o “Floating World” do que aquela so boring Wonderland (full of little boys).


Depois de passar tanto tempo aqui, aprendi a observar e entender as coisas: Espinhos disfarçados de rosas, cobras com pés e mãos, que estranho não é? E as corujas com olhos na nuca que podem ver, até, através da gente?
No escuro da noite dá medo.


Por isso queria ir com as nuvens, pra onde elas me levassem ou pra onde ninguém me conhece, já não sou mais novidade aqui...
Aiê, não ser novidade não é legal. Meu vestido já desbotou de tanto sol, meus cabelos já perderam o viço de tanto sereno que tomei... mas acho tão bonito ver o dia nascer daqui de cima, me dá esperança sabe? Parece uma chance de recomeçar ou começar algo novo, mas estou stucked aqui, talvez cair ou pular fosse a melhor opção, mas e o medo de não saber o que me espera lá embaixo, pode ser pior do que realmente é ou melhor? Quem sabe?


Na verdade nem lembro como cheguei até aqui, acho que talvez tenha sido um tornado, talvez foi depois de um pesadelo, será que isso não é um sonho?
Nunca me disseram o que há além daqui, talvez não existe nada lá embaixo, talvez há apenas, um, eu.