terça-feira, 13 de janeiro de 2009

10X15 (Manuel)

No domingo passado estava na casa de minha mãe e depois de passar horas tentando ver um CD com fotos que minha tia trouxe do Maranhão, finalmente conseguimos ver as fotos estilo slide-show num daqueles DVDs-Toca-tudo. Fiquei saudoso e emocionado ao ver uma foto do meu avozinho Manuel, ele se foi a algum tempo já, deu uma certa tristeza, uma grande saudade, tanta coisa que lembro do meu avozinho...


10x15 era apenas o formato de uma foto que traduzia não uma vida mas um momento parado nela, ele em pé com sua carinha triste perdida, fia você é minha neta? Perguntava meu avô à minha prima que tirava a foto, meio contrariado pois ele não conseguia lembrar quem era a moça bonita com barriguinha de fora que parecia estar com ousadia mostrando aquela maquina estranha na cara dele.


Em pé camisa branca, tão diferente do que eu lembrava, velhinho com cabelos brancos, cara enrugada, mãos cançadas, suas orelhas grandes e compridas que só quem vive tanto tempo consegue te-las, (orelhas e nariz nunca param de crescer) nem sei a idade dele naquela foto, muito menos a idade que ele tinha quando ele se foi.


Em pé ali calças cinzas, mãos paradas de cada lado de seu corpo, lembro que ele vivia batendo as mãos uma na outra, cantando alguma música que não fazia sentido ou assobiando, alto, sempre animado, sempre otimista. Quando perguntávamos se ia chover naquele dia, mesmo com o céu fechado, ele dizia que iria fazer muito sol (como no Maranhão) era só esperar pra ver e se não fizesse hoje, faria amanhã.


Em pé, parado, com seus chinelos, os de dedo não fia, eu não gosto do cabresto ai pelo meio, ele nos ensinava fazer arapuca pra pegar passarinho, tinha paciência de ficar lá esperando aparecer o passarinho que ele queria pegar, senão fosse ele soltava e pronto. Ele era engraçado, várias vezes, minha mãe não o deixava tomar café puro, na idade dele nem sei se era bom mesmo, porque ele ficava agitado, mas de vez em quando o pegávamos tomando café puro e dizíamos a ele que não era bom, então ele ia a cozinha e enchia um copão de leite e tomava, de uma vez, ai começava a pular pela casa, parecia um canguru. E quando perguntávamos o por que ele pulava ele dizia que era pra misturar o leite ao café que tinha tomado.


Parada em algum lugar está a memória dos dias quentes em São Mateus, roubávamos manga e depois de fugir do boi-bravo, comíamos à sombra de uma árvore, onde meu avô esperava, depois ia no cavalo com ele tomar banho no rio Tapuio, ele carregava sua espingarda ao lado do cavalo, nos ensinava a atirar eu devia ter uns dez anos quando dei meu primeiro tiro.


Parada aqui dentro está a lembrança das noites quentes, céu negro-azulado e tão cheio de estrelas, cheiro de bosta de vaca, cheiro de goiaba, brisa que assobiava entre as frestas das janelas das casinhas simples, paredes de barro, telhado de palha, deitados na rede ele contava suas histórias de lobisomem, mula sem cabeça, mulheres de branco e suas caçadas pela aquela mata toda a fora e aqui dentro ficou só a saudade.



(Saudade sentimento que não passa nunca e jamais acaba)

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3 comentários:

Silvinha disse...

alguém tem um lencinho?
ou melhor, nessa altura eu já preciso de um lençol king size...

Unknown disse...

Ai, meu Deus! Lendo isso me deu um "mixto" de "ô, vontade de lember", com "mascarrão duro", "perdi a ouça", "voltei a oussir"...

Thunderstorms, dreams and conversations disse...

Ia guarda o lencinho pra chorar de rir com as histórias do René, toda vez que lembro da tia morro de rir sozinho.
kisses aos dois.