quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Além daquela peça "velha" do bazar.

Fui a um bazar da igreja aqui perto, na verdade sempre que tenho um tempo (esses últimos tempos tenho tido muito tempo) passo por lá. Nem sempre tem algo que me agrada e quando tem se estou com dinheiro no bolso acabo comprando algo, coisas que nem sempre são uteis pra mim, nem sempre são tão legais assim, mas também nem ligo. Sempre acho uma utilidade e adoro coisas de tempos que não voltam mais. Tempos que eu não vivi, coisas que carregam marcas de seus antigos donos, certa energia que me atrai para algumas coisas, algumas pessoas que conheço não gostam muito, mas eu adoro. Sei lá por que, sempre tive uma ligação com coisas velhas, antigas ou se preferir de segunda mão. É eu sei, sou meio estranho (Falei!). Mas continuando, lá na no bazar estão vendendo um PIANO SCHWARTZMAN, eu passei por ele várias vezes, aquela caixa marrom, quase da minha altura, acabei não resistindo e o abri. Ele está meio maltratado, meio manchado pelo tempo, talvez uma certa umidade, toquei com meus dedos levemente suas teclas, o som era muito bom. Quando eu vi que as pessoas me olhavam, talvez por eu não saber tocar, levei minha mão até a tampa e uma senhorinha chegou perto de mim e disse:
-Não feche. Por favor, me arrume uma cadeira.
Fácil tinha tantas por lá, arrumei uma cadeira pra ela. Ela sentou-se, coluna extremamente reta, parecia uma jovem de 16 anos, esticou os braços a frente do corpo, estralou os dedos. Começou a tocar, o som veio tímido, miúdo e espaçado, as pessoas foram chegando mais perto, o som foi crescendo, aumentando, alegrando, essa senhorinha de corpo frágil parecia uma criança brincando com os dentes de um monstro que sorria. Antes de acabar a música ela parou. Ajudei lhe levantar, elogiei e ela pegou-me braço e foi me acompanhado até a saída. Antes da porta ela me disse que este piano era dela, e que tinha doado a igreja por que o marido que tinha dado de presente pra ela tinha morrido o ano passado e que só agora ela teve coragem de se desfazer dele. Eu lhe agradeci pela música e lhe dei um beijo no rosto, saí de lá correndo, toda aquela alegria da música e toda aquela tristeza nos olhos dela lotaram meu coração a ponto de me sufocar, uma mistura de tristeza, esperança, mistura de tantas outras coisas juntas, que senti minha garganta secar, meu coração pular e uma vontade muito grande de chorar.
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(Tenho andado assim meio distraído, meio pelos cantos, meio chorão, as coisas que fazem sentido não fazem sentido algum, as coisas que não fazem sentido já nem noto mais, tenho tido apenas uma coisa em minha cabeça... )

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