terça-feira, 4 de agosto de 2009

Je panique

Tudo aconteceu assim muito, mas muito rápido mesmo. Certa noite, calçada com seus peep toes, meias pretas (muito grossas) e vestida com seu vestido listrado de roxo, cyan, vert e lilac com grandes botões carmim e um decote bem generoso atrás e na frente, no braço esquerdo pulseira de acrílico fosco e sua bolsinha vintage, em sua mão direita uma taça de Cosmopolitan. Cabelos claros ao estilo Califórnia’Sun-Kissed, com largos cachos passando dos ombros presos com algo que os deixavam com um estilo meio moicano. Pisciana.
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Tudo parecia rodar, o strobe piscava muito rápido, rápido demais. Naquela noite, ele se esquecera de por um cinto, seu jeans surrado pendia do lado do bolso da carteira, camiseta branca, blazer preto de sarja com moletom azul por baixo, no braço direito, pulseira de couro dessas compradas na Praça Benedito Calisto ou República (tanto faz). Na mão direita uma lata de cerveja (Nacional). Calçado com seu tênis verde estilo “Allstar”. Cabelos despenteados pelo vento que neste dia dava a impressão de que tudo passava num segundo. Canceriano.
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Ela estava beijando um cara que acabara de conhecer, por um momento achou que sua amiga tinha dito algo, abriu um dos olhos e não a viu, mas viu este rapaz (bonito) que passava frente ao bar onde ela estava, era parecia engraçado, ele parecia bêbado, quase que cambaleava pela tontura que o strobe dava. Fechou o olho novamente, em sua mente via a imagem do rapaz, sentiu vontade de rir. Ele apenas tentava chegar ao meio do club, acabara de sair de um relacionamento muito longo, olhava pra todo mundo, mas nem pensava em envolvimento com ninguém. Queria apenas queimar a bruxa na fogueira e suar toda sua tristeza na pista de dança. O strobe parou, ele já conseguia andar normalmente.
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O cara que ela beijava disse que ia ao banheiro, ela disse que tudo bem, virou sua taça de uma vez e colocou a no balcão. Ele ouviu uma musica gostava, começar, virou sua lata queria estar com a mãos livres. Ela foi chegando perto, tirou um cigarro da bolsa, ela tinha isqueiro, mas virou pra ele e pediu “fogo”. Ele abriu os olhos e sorriu, ela era mesmo muito bonita, disse algo em seu ouvido, mas ela não entendeu. E colocou seus lábios perto do ouvido dele e perguntou o que tinha dito. Ele sorriu de novo, sorriso branco, boca vermelha, olhos verdes. Eu não fumo foi o que ele disse. Ela pensou em voltar ao bar e enquanto começa virar os ombros e sair. Ele a puxou pela cintura e disse pra ela esperar esta música acabar por que era muito boa. Começaram a dançar juntos.
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E muito rápido, muito rápido mesmo, rápido demais até. Eles começaram a se beijar. Ela, olhos castanhos fechados, boca carnuda que encontrava a boca dele. Não perguntaram nomes, um abraço que era como entrar dentro dos braços e corpo dele. Ele tonto, excitado pelo cheiro dela. A bebida nos dois, ditava a intensidade de seus beijos. A pista começou ficar muito apertada decidiram ir pra um canto mais sossegado. Sem tempo, a vontade de mais e além era muito grande. Ele morava com amigos. Ela morava sozinha, o carro dele seguiu o dela. Do lado de fora, chuva e frio dentro de cada carro um desejo que crescia (e como crescia).
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Carro dele fora do prédio, carro dela na garagem, ele achou que tudo era bom demais para estar acontecendo, teve medo de que ela não saísse do prédio, pensou em ligar pra ela (mas desistiu). Ela se preocupava, achava que ele tivesse ido embora, o elevador demorava, pensou em ligar pra ele (na garagem não havia sinal). Muito rápido (não o suficiente). Eles estavam entrando no prédio. Elevador demorado. Moro no quinto andar, ela disse, ele encostando seu corpo no dela pensou, “ainda bem que não é no 20°”, e eles se beijaram.
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Da porta pra dentro daquele apartamento, nada muito importante foi dito, mas todo o resto foi feito, durante horas, e depois de novo e de novo. Era uma coisa louca, eles eram dois estranhos, mas isso não parecia importar. Era como se o tempo do lado de fora de lá não existisse, era como essa intimidade já fosse conhecida, era com se estes beijos já fossem de lábios “antigos” em suas vidas.
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Ele dormiu lá, corpo nu abraçado ao corpo nu dela. Quando ela pegou no sono já brilhava o sol do lado de fora do apartamento. Ao acordar beijos, aqueles de quem acabaram de acordar, mas pra eles isso não importava. E eles esquentaram, e foi muito bom para os dois. Banho, juntos, cheiro de café, cheiro de French Toast, ainda cheiro de sabonete que deu vontade de mais banho. Decidiram sair pra almoçar juntos, podiam andar até algum lugar bonitinho por perto do apartamento dela. Eles comeram e beberam, deram muitas risadas e conversaram sobre tudo que não tinham conversado antes.
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Ele a deixou na porta do apartamento. Ela o puxou pela mão e deu lhe um beijo muito sentido. Ele pensou que era cedo demais, mas era o que ele precisava mesmo. Ela achou que foi bom demais, era o que ela queria. Ele foi embora feliz pensando em mandar uma mensagem para agradecer e fez. Ela respondeu logo em seguida, arrumando a bagunça que eles fizeram no apartamento. Mas no final das contas. Eles nunca mais se viram. A vida muda tudo muito rápido, muito rápido mesmo, rápido demais até que dá pânico, insegurança, medo, e esse medo idiota, pânico e insegurança fizeram com que os dois não tentassem. Jogando tudo que aconteceu nas mãos do destino.
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(Quando não tentamos o destino faz apenas o que ele quer e quando quer)
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