terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Foi se a cana como a foice corta o tempo.

Naquela praça da cidade, onde ainda existe aquele coreto, sentados num banco à sombra de uma árvore, o vento soprava lentamente e com ele cheirava o cheiro de chuva que chegava rápido.
Ele, entre aspas, perguntou sobre uma coisa que ela escondia. Pedido anterior, dela, por ajuda nunca foi escutado.
Ela, reticente engoliu em seco, pensou bem e decidiu falar a verdade.
Ele já sabia da verdade, mas queria, entre todas as vírgulas e interrogações, ouvir da boca dela. O que já sabia.
E então com seus olhos mareados e apertando sua sombrinha entre as mãos, ela pediu pra ele ficar. Esperava que chuvesse logo, queria misturar suas lágrimas com a água da chuva.
Ele arrumando seu chapéu, levantou-se, não teve coragem de perdoá-la, disse adeus. (Achava, lá no fundo, que o tempo daria jeito em tudo e que isso seria apenas um castigo)
Mas o castigo foi mútuo. (O orgulho é espinho na sola pé). Misto de raiva, arrependimento, tormentos que os perseguiriam por muito tempo... Não curou e não acabou, só aumentou. (Entrou mais ainda pra dentro da carne)
E assim o tempo passou... segundos empilhados em meses.
Passou cortando tudo pelo caminho como a foice corta a cana.
Algum tempo depois, veio a saudade que o moía por dentro, fazendo caldo de seu coração.
Ela, não conseguia esquecer a saudade e juntava os cacos que se partiam novamente, juntou tudo em uma mala e decidiu pegar, o último, trem daquela semana e partir daquela cidade. Pra sempre.
Naquela estação, era final de tarde e o sol arrastava a sombra do relógio no chão, sentia cheiro de merda de cavalo e via as pessoas que corriam apressadas de um lado para outro.
Ela já não tinha mais esperança de nada, ele correu para encontrá-la não sabia o que dizer. Adeus. Será que era isso mesmo que deveria fazer? Dizer?
Ela já estava na fila para entrar no trem, mas não deixou de olhar pra trás e ao ver seu chapéu movimentar-se, rápido, entre as outras cabeças, a esperança bateu forte em seu peito. Ela esperava que ele a pedisse pra ficar, mas ele não pediu.
(Ele pensou em pedir pra ela ficar, com ele, mas não teve coragem)
Ela pensou em chorar, mas esperaria até entrar no trem, havia prometido que jamais choraria na frente dele novamente. (Queria parecer forte como ele)
Ele, com seus olhos mareados, a segurou forte pelos os ombros e lhe deu um beijo que teria sido nos lábios. (Ele pensou em tentar novamente, mas teve medo)
Se ela não tivesse virado o rosto, para não olha-lo nos olhos e chorar. Parecer forte! (Pensou)
Ela queria que ele a beijasse, mas, beijasse, como se realmente este beijo representasse algo. Algo como um novo começo e não uma despedida.
O trem dava seu primeiro apito, cortando todas as conversas de quem estava em volta, assustando o som dos ponteiros do relógio que se moviam lentamente naquele momento.
Ela disse algo, entre o adeus e o cuide-se, mas ele não ouviu e milésimos de segundos depois ela já havia se arrependido. (Melhor que ele não tivesse ouvido)
Ele pensou em perguntar o que ela havia dito. Mas achou que explicações atrapalhariam aquele momento. E queria que o tempo andasse pra trás.
Ele segurava sua mão enquanto o trem, lentamente, partia. Seu destinos e seus corações.
Ela pensou em largar, mas sabia que aquela seria a última vez que o veria. Aquele rosto de quem tanto lhe amou.
Então ela apertou forte sua mão. Como se aquele amor fosse o último de sua vida.
Ao aumentar da velocidade do trem ele pensou em largar a mão dela, mas sabia que aquela seria a última vez que a veria. O resto seria apenas lembranças de olhos fechados e bem apertados.
Então ele segurou firme, acelerou seus passos e correu tentando acompanhar o trem.
Mas o céu já era escuro e o cheiro do ar agora era de carvão queimado, brasas e cinzas.
Chegara o fim daquela estação e o fim desta história.
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(Adriana Calcanhotto- Naquela Estação)

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