quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Cidade


Adoro acordar e ouvir o som dos carros que passam numa famosa avenida perto de casa, sons de freadas, buzinas e roncos de motor de caminhões, são como os passarinhos que a longo tempo não ouço por aqui.

Abro minha janela e vejo mais um belo dia cinza começando, em meio à neblina da cidade avisto outros vizinhos, dos prédios aos lados, acendendo suas luzinhas (pequenas) siluetas e movimentos de um lado para outro em seus pequenos apartamentos.

Imagino que jamais conseguiria viver senão em outra cidade grande e cinza, onde pessoas passam todos os dias umas pelas outras (anônimas), alheias. Gosto disso, gosto de ter minha imagem livre de qualquer coisa que me vincule a outra coisa, gosto de ser assim invisível, apenas mais um, em meio aos carros, gosto de ser descoberto e esquecido quando atravesso a rua enquanto o farol está fechado para pedestres, a lembrança de mim é apenas um vulto e o eco da buzina, que me segue até eu chegar à outra calçada. (Eu sou o amigo que atravessa a rua).

No meu dia a dia observo as mesmas pessoas que entram em ônibus e metro sempre no mesmo horário, sempre sem nome, a caminho do trabalho, escola ou sei lá pra onde. Não sei se me percebem da mesma maneira que eu as percebo, olhos puxados, verdes, castanhos, cabelos, cacheados, lisos, alisados, altos, baixas, magras ou gordos, são apenas mais alguns rostos que lembrarei depois, talvez os veja novamente talvez nunca mais, é essa a beleza de não ser.

O entardecer é belo, o céu vai se tingindo de um azul escuro misturado ao cinza da poluição, o laranja do sol se pondo, avistado apenas por entre os prédios ou quando vou para o meio da rua, é diferente, é cor de sol se pondo na cidade, é tinto como tinta feita por pintores, nunca igual à outra cidade.

E o anoitecer? O céu é de um azul profundo, azul da meia-noite quase negro, nenhuma estrela brilha, as luzes gritantes daqui de baixo ofuscam as luzes tímidas lá de cima, como em desenhos de artistas contemporâneos, os prédios se misturam ao fundo, vê-se apenas as luzes amarelas dos apartamentos, por vezes solitárias, por vezes mudas no meio do balançar dos galhos soprados pelos ventos que se prendem em meio aos prédios.


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