terça-feira, 3 de março de 2009

Eita comidinha boa.

Era antes do almoço e já com tudo pronto. Depois de quase um mês de silêncio, falta de grana, reclamações sobre a vida e tédio, vendo as moscas pousarem no balcão. Decidiu que só sabia fazer aquilo mesmo, não ligava mais, se as carolas vizinhas iriam dizer sobre ela.
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Pegou um monte de panfletos e falou ao João pra arrumar o resto e esperar por ela, havia pensado em uma coisa, que talvez pudesse ajudá-los. Subiu correndo as escadas na lateral do quintal, que levavam pra parte de cima do sobrado.
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Tomou um longo banho em sua banheira vitoriana, pétalas de rosa e essência de leite de cabra. Secou seus cachos com a toalha, sem calcinhas e sem sutiã, vestiu seu vestido mais curto e mais vermelho, sabia que teria que ser assim, só assim se sentia, ela, como sempre foi. Dona da situação.
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Passou um perfume americano, importado, made in china. Mas é importado do mesmo jeito. Pensou. Pendurou sua bolsa a tira-colo. Pegou suas chaves e trancou seu portão lateral. "O Zé" só olhava, sabia que podia confiar na mulher.
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A carola na janela da casa ao lado lhe espiava e quando viu o vento bater e levantar seu vestido. Logo correu fazendo o sinal da cruz, e foi ter com a outra vizinha que cantava enquanto varria o seu quintal. João observava bravo, quase bufando.
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- Desavergonhada, esse marido deve ser um corno mesmo.

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- Ou é froxo, já num deve dar no coro, falou a outra.

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João pensou em falar algo, mas a mulher olhou pra ele e piscou. Ela fingiu não ouvir sabia o que tinha que fazer. Foi praquele ponto de ônibus frente à construção. Sabia que era questão de minutos, era só esperar o vento bater, sabia que eles sentiriam o cheiro, do seu desespero, de longe.

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E assim foi, começam os assobios, beijos mandados pelo vento em sua direção. Eles já estavam na mão, sorriu com o seu próprio pensamento. Começou sinalizar pra que eles descessem dos andaimes. Ela não tinha medo do que podia acontecer, seu desespero era maior.

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E eles foram se empilhando em volta dela, como sacos sujos de areia, ela lhes esticava as mãos com os folhetos. Elogios, deve ser boa mesmo, vontade de experimentar. Ela ria e se fingia de tímida, vamos lá então.

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João não acreditou quando viu aquele monte de homens seguindo sua mulher de volta, ria de alegria e felicidade, parecia que as coisas iriam se acertar daqui pra frente, ele mesmo já não se importava mais com o falatório das vizinhas.

-Essa é a melhor comida caseira do bairro com certeza! Concordava ele, recebendo os pedreiros em seu humilde restaurante.

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(Ela era moça da vida mesmo, até o dia que conheceu João e eles se apaixonaram, mesmo assim, ainda não era fácil, a vida, ela fazia falta na zona não só porque era bonita, mas também porque era a melhor cozinheira de lá)
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4 comentários:

Silvinha disse...

que coisa mais linda, mi. isso dava um curta sensacional. vamos escrever um roteirinho???

Thunderstorms, dreams and conversations disse...

Ontem eu fui numa apresentação de curtas. Lindos.
Simbora to facinho.
Lov.u

Má Gasparetto disse...

O mais legal é o filme que provoca na cabeça. Parabéns, se fosse um primeiro capítulo, eu lia o livro numa tarde.

Thunderstorms, dreams and conversations disse...

Na minha sempre existe várias versões, mas pra cá sempre a mais curta. Muito obrigado.
;)