quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"Quem Fo De Bem Sai Saindo!"

Não sei se vocês sabem, mas eles estão despejando os moradores do Edifício Mercúrio, nas imediações do Mercado Municipal, pois ele e seu irmão siamês o São Vito serão demolidos para dar lugar a uma praça.

Sinto pelas as famílias de bem que ainda residem no tal prédio, o Natal ta ae gente! Podiam esperar até que ele passasse, depois do Ano Novo, talvez. Imagino que criar filhos dividindo corredores, escadas e elevadores com marginais, prostitutas e afins, é ruim, mas ficar no meio da rua é muito pior.

O prédio construído nos anos 50 ta detonado, feio, pixado, considerado uma das maiores desgraças paulistanas, (uma favela vertical), com 24 andares e 84 apartamentos, ainda assim está com sua estrutura intacta. (não dá pra controlar quem mora ou deixa de morar lá).

É impossível falar apenas do que se sabe e entende, não sei muito e pouco entendo de certas coisas. Mas, sei que um dia, anos atrás conheci um garoto loiro de olhos azuis que havia sido largado pela mãe. E uma moça, colega de trabalho, da mãe, o pegou pra criar junto com seus outros dois filhos, ela é negra (o politicamente correto é afrobrasileira?). Era mãe solteira (mas, tinha vários namorados que a ajudavam) e com todas as dificuldades e podendo passar por outras mais com um filho branco, (tem que dar muita explicação para as pessoas), sem vacilar pegou o menino abandonado, pela amiga, pra criar.

Ele morava num prédio próximo ao "Treme-treme", e às vezes quando ia visitá-lo era divertido ficar olhando todos os tipos que viviam e passavam pelo prédio, observávamos as putas atendendo seus clientes em um andar, a pianista em outro. Em sua frente, homens trocavam papeis com outras pessoas que passam de carro e famílias saiam com várias sacolas e barracas indo trabalhar na 25 de Março.

No terceiro andar, ouvíamos o cantar rouco de uma travesti e víamos o penar da senhorinha aposentada que olhava o resto da vida passar, junto com o barulho dos caminhões vindo do CEASA, ou no quarto o dançar, em frente ao espelho, de outra pessoa.

Tudo parecia tão colorido, tão vivo e alegre, por vezes triste quando víamos brigas por causa de acordos mal acordados, mas era assim algumas de nossas tardes ou manhãs, debruçados na janela observando a vida diferente da nossa e nem sabíamos do que aquilo tudo (todo aquele intercalar de vidas) se tratava.

Essa é só uma lembrança de um prédio que só fez uma pequena diferença em minha vida, pois eu era apenas um visitante de um prédio vizinho, imagina pra quem viveu lá por mais de sete, doze anos ou grande parte da própria vida.


(Achei que essa musica tinha a ver com o post, peguei umas imagens da cidade, favelas, pessoas, conflitos, street art e fotos de outros prédios abandonados inclusive o próprio)

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