Como sempre com o clima maluco desta cidade, mudo sempre o que coloco em minha bolsa, que hoje é maior do que costumava ser. É melhor, sempre, estar-preparado-para-qualquer-ocasião. Dias carrego guarda-chuva, dias óculos de sol, dias uma blusa, dias um uma camiseta extra, perfume, desodorante, livro, escova-de-dentes sei lá, às vezes tudo, o que mais poderia ter na bolsa de um cara? No bolso de trás carteira, bolso esquerdo cigarro, isqueiro, chaves, direito celular.
Sai correndo peguei um guarda chuva tirei meus cadernos, estojo de lápis era férias não iria precisar, Havia tanto por fazer precisava ir ao banco, ao mercado, ao shopping, visitar minha mãe, visitar uma amiga, tomar um café com outro amigo e ainda se tivesse fôlego encontrar amigos do antigo emprego para tomar uma cerveja e depois sair pra dançar com amigos da facul.
Pelo meio do meu caminho perguntava-me; Porque correr tanto por que não deixar as coisas acontecerem calmamente como habitualmente fazia? Devia desencanar, mas uma pressa absurda em fazer tudo em um dia só, um dia com menos algumas horas, havia acordado tarde, sabia que devia ter saído da cama quando o relógio despertou. Mas já era tarde.
Fiz, fui, paguei, visitei, comprei, sorri, conversei, comi, me diverti, dancei, bebi... Preciso ir embora, não consigo mais nem ver bebida, cigarro, pra qual lado é o metro?? Caminhei calmamente, o tempo se arrastava junto comigo derrepente toda a pressa virou lerdeza.
Catraca, estações, pessoas, várias pessoas e um senhor barrigudo de sorriso estranho pra mim. Devo estar horrível! (Pensei). Sol, fila, garoa, fumaça de cigarro cheiro de bebida, mas simpatia dele parecia aumentar.
Corri pra trocar de linha num pulo ele foi até o banco que eu estava sentado e saiu correndo atrás de mim. Eu parecia uma gazela pulando dois, três, degraus acima de uma vez, descendo do outro lado, ouço o trem chegar, quatro, cinco degraus abaixo de uma vez, olhei rapidamente pra trás e via a porta fechar na cara do senhor barrigudo de sorriso estranho pra mim, agora ofegante ficou do lado de fora as portas quase pegaram sua barriga.
Coração palpitante, respiração ofegante. Ufa! O que será que aquele doido queria? Finalmente minha estação. O sol arranhava atrás dos prédios (troquei meus óculos por um de sol), arrastava os pés no asfalto calmamente rua abaixo. Na metade do caminho, por algum motivo, olhei pra trás. Senhor barrigudo de sorriso estranho pra mim, apressava seus paços pra me alcançar, acelerei os meus, virando a direita em minha rua, estou quase chegando em casa, ele vem se aproximando cada vez mais, apertado, vontade-de-mijar-por-causa-da-cerveja.
Procuro nos bolsos, enquanto suo frio, chaves, nada, meu portão, ele se aproxima, bolsa, tira blusa de dentro, nada de chave, ele cada vez mais perto, bolsos da bolsa, tiro relógio, caneta, ele punho direito cerrado, nada de chave, ele diz alguma coisa, meio longe ainda, acena, mão esquerda espalmada, mais perto, nada de chave, coração quase saindo pela boca, pensou em correr só, mas ele já com mão em meu ombro.
Oi vizinho, te vi no metro, mas acho que você não me reconheceu, eu mudo, sua chave caiu do teu bolso, tentei correr atrás de você, mas não consegui te alcançar, quase me mijando, ele estende a mão aberta, chave com chaveiro de metal e couro, estiquei minha mão, mudo, respiração acalmava. Primeiras palavras. É que eu estava apertado, muito obrigado, peguei a chave e abri o portão, muito obrigado, fechava o portão, muito obrigado. Não sei como te agradecer. Não precisa agradecer, tchau tenha um bom dia, ele disse. Eu disse; Pro senhor também. Entrei correndo e a vontade de mijar até passou.
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(Por isso canto, por isso danço, tenho pressa em chegar, mas não gosto de partir)
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